Enquanto a rainha chorava sozinha a morte do Príncipe Filipe, Downing Street teve mais duas festas

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Sergeant Tom Robinson / Wikimedia

O número 10 da Downing Street, a sede do governo britânico.

A pressão para que Boris Johnson se demita continua a aumentar, depois de na terça-feira já ter sido conhecida a sua participação numa festa em Maio de 2020. Agora, sabe-se que houve mais duas festas no número 10 em Abril de 2021.

Segundo o jornal britânico The Telegraph, houve duas festas em Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro do Reino Unido, em Abril do ano passado, na altura da morte do Príncipe Filipe.

A rainha teve de ficar sozinha na véspera do funeral do marido, a 16 de Abril de 2021, devido às restrições impostas para o combate à pandemia, mas nesse mesmo dia houve duas festas em Downing Street de despedida para James Slack, assessor de comunicação de Boris Johnson e para um fotógrafo pessoal do primeiro-ministro.

Várias testemunhas revelaram que cerca de 30 pessoas participaram no que aparentavam ser dois eventos distintos em partes diferentes de Downing Street e que depois todos se juntaram no jardim. Uma pessoa até terá ido com uma mala comprar vinho e as festas contaram com música barulhenta.

O funeral do Príncipe Filipe teve lugar no dia seguinte, 17 de Abril, tendo a rainha Isabel II ficado sentada sozinha para manter o distanciamento social

Boris Johnson não esteve presente nestas festas. Na altura, as regras determinavam que não mais do que seis pessoas ou dois agregados familiares se pudessem encontrar ao ar livre e no caso dos espaços fechados, só se podia conviver com pessoas próximas ou da mesma família.

Apesar de não ter estado presente nestas festas, as revelações estão a colocar ainda mais pressão sobre Boris Johnson para se demitir, isto meros dias depois da polícia ter aberto uma investigação a outra festa em Downing Street em Maio de 2020, ainda no primeiro confinamento, em que o primeiro-ministro participou.

O email que levou à revelação desta festa em Maio partiu de um secretário próximo de Johnson que convidou mais de 100 pessoas e lembro-as que deviam trazer as suas próprias bebidas. Mesmo assim, quando pediu desculpas no parlamento na quarta-feira, Boris disse que não sabia que se tratava de uma festa e que acreditava que era uma reunião de trabalho até lá chegar.

A notícia de que Downing Street estava a festejar enquanto o país estava de luto já suscitou reacções por parte da oposição. A deputada Trabalhista Angela Rayner escreveu no Twitter: “Não tenho palavras para a cultura e comportamentos no número 10 e o primeiro-ministro tem de assumir a responsabilidade“.

Já Ed Davey, líder dos Liberais Democratas, também apelou à demissão de Boris. “A Rainha sentada sozinha a fazer o luto do marido foi a imagem que definiu o confinamento. Não por ela ser a rainha, mas porque era mais uma pessoa a fazer o luto sozinha como tantas outras. Enquanto ela sofria, o número 10 festejava. Johnson tem de ir”, afirma.

Não são só os outros partido a querer a saída de Boris. Andrew Bridgen, um deputado conservador que apoiou a candidatura de Johnson para a liderança do partido, entregou uma moção de censura e apelou a que o primeiro-ministro saia num período de três meses, falando num “vácuo moral no coração do governo”.

Bridgen junta-se assim a quatro outros deputados conservadores que já pediram publicamente a demissão de Boris, incluindo o líder dos Conservadores da Escócia, Douglas Ross. Boris também não deverá ser convidado para a conferência do partido na Escócia, na Primavera, e quase todos os 31 deputados conservadores eleitos por este país apoiam a saída do primeiro-ministro.

As regras do partido determinam que se mais de 15% dos deputados submeterem moções de censura, o líder tem de ir a votos. Caso Boris perca esse voto, seria aberta uma corrida para a liderança da qual o actual primeiro-ministro não poderia participar.

Este cenário parece cada vez mais provável com as crises e escândalos que Boris Johnson tem somado nas últimas semanas. Os jornais britânicos já alinham potenciais sucessores, com os Ministros Liz Truss e Rishi Sunak no topo das listas.

Adriana Peixoto, ZAP //

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