Casal português criou o jogo, um derivado do Wordle mas com um jogo de tabuleiro a orientar o processo: “As pessoas gostam e não é exaustivo”.
Nunca pensaram em criar um jogo de palavras, mas criaram. Mas provavelmente nunca pensaram em viver “no campo”, mas vivem.
André Santos e Tânia Carvalho deixaram a confusão de uma grande cidade como o Porto (ou arredores), foram para Baião e criaram a marca Icónica – Digital Design, há praticamente quatro anos. No início centraram-se em aplicações web para clientes, aplicações interactivas, para clientes nacionais e internacionais.
Sempre criaram projectos e, com o passar do tempo, centraram-se em produtos digitais próprios.
“Focámo-nos naquilo que, acho, somos bons e rápidos a fazer, produtos nossos, como aplicações web e outros produtos que irão surgir em breve. Gostamos de alimentar ideias para a comunidade, fazemos algo para a comunidade, porque neste contexto é tudo gratuito”, comentou Tânia Carvalho, em conversa com o ZAP.
Tânia trata mais do design e da administração da marca. Mas, admite, “90% ou 95% das ideias” saem da cabeça do outro elemento do casal, André Santos. Juntos, desenvolvem o projecto: “São 24 horas juntos aqui em Baião, grande parte do tempo a trabalhar. Embora nem consideremos isto trabalho porque adoramos o que fazemos”, continuou Tânia.
O objectivo, como é habitual, é criar projectos rentáveis – porque “não dá para criar só projectos gratuitos e viver do ar” – mas, entre os projectos gratuitos, surgiu o Quina.
O jogo de palavras, online, é um derivado do famoso Wordle, que serviu de inspiração; mas foi acrescentada uma lógica de Mastermind, um jogo de tabuleiro criado há mais de 50 anos baseado em combinações de cores.
No Quina existe uma “sinalização” mas a combinação é feita por letras. A pessoa tem direito a nove tentativas para adivinhar uma palavra de cinco letras.
À direita existe a Quina, que indica o resultado da tentativa: fica vazia se nenhuma letra estiver correcta; apresentará um pino vermelho (ou mais) se houver uma letra (ou mais) que existe na palavra mas que não está no lugar certo; apresentará pinos verdes se houver letras certas na posição certa.
Há só uma palavra por dia, igual para todos os utilizadores. O utilizador tem a possibilidade de activar o «modo fácil», se tiver dificuldades em descobrir a palavra. E pode-se partilhar o resultado nas redes sociais, sem revelar a palavra.
O Quina foi lançado há apenas uma semana e já conta com 1.700 utilizadores únicos, com cerca de 3.500 jogos concluídos e com mais de 400 jogadores diários.
André Santos, o criador do jogo, não teve a intenção de criar o Quina quando se cruzou com o Wordle. A ideia de criar o Quina surgiu quando se cruzou com a versão do Wordle, em português, criada no Brasil: o Termo.
“Saiu o Termo. E grande parte dos portugueses joga isso, com termos brasileiros. Mas vi que muitas vezes as palavras secretas são brasileiras, típicas do Brasil, que não são ditas em Portugal. E perdiam um bocado o propósito. Aí foi o momento decisivo: estamos na posição de fazer algo engraçado, em Portugal, e mais desafiante”, recordou André.
Quina é uma designação que tem origem na bandeira de Portugal, que apresenta cinco quinas. E, assim, o jogo só tem palavras do português europeu.
André nunca se imaginou nestas vidas: “Algo como o Mastermind sim, mas nunca me imaginei a criar um jogo de palavras”. Mas não está arrependido: “É algo de que as pessoas gostam. E, sendo diário, não é exaustivo: jogam um bocadinho e esperam pelo dia seguinte”.
“E esta imaginação, esta criação…tem tudo a ver com a mudança de ares“, partilhou Tânia, regressando ao início da conversa: “Comprámos casa aqui em Baião, primeiro para turismo rural. Mas mais tarde viemos viver para aqui e foi já aqui que criámos a marca e todos estes projectos”.
O “casal mistério” daquela zona – porque ainda é estranho (embora cada vez menos) ver dois jovens deixarem um grande centro urbano para viverem numa zona mais sossegada – criou um jogo com palavras mistério.