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Quatro cientistas contestam a descoberta da identidade de Jack, o Estripador

Fenrizulf / deviantART

"Jack o Estripador" por Fenrizulf

“Jack o Estripador” por Fenrizulf

Quatro cientistas com conhecimentos aprofundados na área da investigação genética concluíram que o cientista que reivindicou ter identificado Jack, o Estripador cometeu um “erro básico de terminologia”, noticiou o diário britânico The Independent.

Anunciada como a definitiva prova científica que desvendaria a verdadeira identidade de Jack, o Estripador, depois de este ter brutalmente assassinado pelo menos cinco mulheres nas ruas de Whitechapel, no East End de Londres, há 126 anos, a conclusão do cientista Jari Louhelainen, biólogo molecular na Universidade John Moores, em Liverpool, que realizou a análise de ADN, caiu por terra, já que terá cometido um erro grosseiro, segundo os seus pares.

Para Louhelainen, um barbeiro imigrante polaco de 23 anos chamado Aaron Kosminski era “definitiva, categórica e absolutamente” o homem que cometeu aquelas atrocidades em 1888, de acordo com uma análise detalhada do ADN extraído de um lenço de seda alegadamente encontrado no local de um dos homicídios.

Mas Louhelainen terá cometido um “erro de terminologia” ao usar a base de dados do ADN para calcular as probabilidades de uma compatibilidade genética.

A ser verdade, tal significa que os seus cálculos estavam errados e que quase qualquer pessoa poderia ter deixado o ADN que ele insiste pertencer à vítima do Estripador.

O biólogo molecular de Liverpool sustentou que tinha identificado a compatibilidade entre a amostra retirada do lenço, supostamente encontrado perto do cadáver desfigurado de uma vítima, Catherine Eddowes, e o ADN de uma descendente de Eddowes chamada Karen Miller, que apresentava uma mutação muito rara (314.1C).

Mas os especialistas com conhecimento aprofundado da base de dados do ADN afirmam que as conclusões de Louhelainen partem da premissa errada, porque a mutação em questão deveria ser identificada como 315.1C, e não como 314.1C, e que se o biólogo molecular tivesse feito isso, e seguido as normas da prática forense, teria descoberto que a mutação não é assim tão rara, mas partilhada por mais de 99 por cento das pessoas de ascendência europeia.

O erro, primeiro apontado na Austrália por fãs de crimes num blogue da casebook.org, foi confirmado por quatro especialistas com vastos conhecimentos na área da análise do ADN – incluindo o professor Sir Alec Jeffreys, inventor da técnica que permite estabelecer o perfil genético de cada indivíduo.

Segundo os especialistas, o erro implica que não pode ser feita qualquer ligação entre o ADN de Kosminski e Eddowes e que, portanto, qualquer sugestão de que Jack, o Estripador e Kosminski são a mesma pessoa se baseia numa conjetura ou suposição – tal como foi sempre, desde que a polícia pela primeira vez identificou Kosminski como possível suspeito, há mais de um século.

O mais recente pico de interesse em Kosminski, que morreu num asilo para doentes mentais, aos 53 anos, provém de um livro, “Nomeando Jack, o Estripador“, publicado no início deste ano por Russell Edwards, um empresário que comprou o lenço em 2007 partindo do pressuposto de que se tratava da mesma peça alegadamente encontrada junto de Eddowes.

“Eu tenho a única prova forense de toda a história do caso. Passei 14 anos a trabalhar, e finalmente resolvemos o mistério da identidade de Jack, o Estripador’. Só os céticos que querem perpetuar o mito duvidarão. Agora, foi de vez – desmascarámo-lo”, disse Edwards ao jornal The Mail on Sunday.

O empresário encarregou Louhelainen de realizar uma análise forense do lenço, incluindo a extração de quaisquer amostras de ADN que fossem encontradas no tecido, que teria sido supostamente armazenado, sem ser lavado, durante todo este tempo, pela família do polícia londrino que adquirira a peça.

Louhelainen, que se escusou a responder a perguntas, conseguiu extrair sete fragmentos incompletos de ADN mitocondrial (mtDNA, na sigla inglesa) e tentou reconstituir as suas sequências com o mtDNA da descendente Karen Miller.

O trabalho não foi publicado numa revista científica, e a única descrição pormenorizada do processo de análise de Louhelainen encontra-se no livro de Edwards.

/Lusa

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