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Quanto tempo é possível sobreviver sob escombros?

Sedat Suna / EPA

Elbistan, no distrito de Kahramanmaras, na Turquia.

O tempo está a esgotar-se para os sobreviventes que ainda podem estar sob os escombros na Turquia e na Síria, depois que dois terramotos, de magnitude 7,8 e 7,5 atingiram ambos os países na segunda-feira.

Equipas de resgate dos dois países e de todo o mundo estão a trabalhar sem parar para remover os destroços de áreas em que há sinais de vida. Mas quanto tempo é possível sobreviver sob os escombros?

Segundo especialistas, depende de vários fatores. A posição da vítima no momento do colapso, o acesso ao ar e à água, o clima, as condições meteorológicas e a aptidão física da pessoa presa influenciam o tempo que pode sobreviver.

A maioria dos resgates ocorre dentro de 24 horas após um desastre, mas há casos de pessoas tiradas dos escombros depois de muito mais tempo. A ONU geralmente interrompe os esforços de busca e resgate entre cinco e sete dias após a catástrofe. Esta decisão só é tomada após um ou dois dias sem nenhum sobrevivente resgatado.

Embora não seja fácil prever quando um terramoto ou o desabamento repentino de um prédio irão ocorrer, o comportamento assumido durante uma emergência é a chave para a sobrevivência, dizem os especialistas. Um local de abrigo bem escolhido pode oferecer proteção física sob detritos e ajudar a ter acesso ao ar.

“Ser capaz de executar o que chamamos de técnica de ‘abaixar, cobrir e segurar’ pode criar oportunidades de sobrevivência”, disse Murat Harun Ongoren, coordenador da AKUT (Associação Turca de Busca e Resgate), a maior organização de assistência e resgate da sociedade civil da Turquia.

‘Abaixar, cobrir e segurar’ significa: cair no chão de joelhos, ir para debaixo de uma mesa ou algo do tipo e segurar-se firme até que o tremor pare.

“Educação, treinamento e consciencialização sobre medidas de emergência são importantes e muitas vezes ignorados. E isso determinará a sua expectativa de vida sob os escombros”, indicou Murat Harun Ongoren.

Jetri Regmi, técnica do Programa Mundial de Emergências de Saúde da OMS, também enfatiza a importância da preparação.

“Proteger-se num local seguro (…) aumenta as ‘chances’ de sobrevivência. Não há certezas, pois cada emergência é diferente, mas os esforços iniciais de busca e resgate dependem da capacidade de preparação das comunidades locais”, referiu.

O suprimento de ar e água é chave para sobreviver. Mas isso depende do nível das lesões – perder sangue diminui as ‘chances’ de se sair com vida após 24 horas. Se o sobrevivente não estiver gravemente ferido e tiver ar para respirar, o próximo passo é manter a hidratação, apontam os especialistas.

Segundo o professor Richard Edward Moon, especialista em terapia intensiva da Duke University, nos Estados Unidos, “a falta de água e oxigénio são questões críticas para a sobrevivência”.

“O adulto perde até 1,2 litro de água por dia”, através da urina, da respiração, do vapor de água e do suor. “Quando se perde oito litros ou mais a pessoa atinge um nível grave”, explicou. Algumas estimativas sugerem que as pessoas podem sobreviver sem água entre três a sete dias.

Se uma pessoa sofreu traumatismo craniano ou outros ferimentos graves e tem pouco espaço para respirar, há poucas ‘chances’ de sobreviver mais de 24 horas. Ser capaz de avaliar o grau de lesão é crucial, de acordo com Jetri Regmi. “Pessoas com lesões na coluna, cabeça ou tórax podem não sobreviver até que possam ser levadas para atendimento médico”, sublinhou.

Perda de sangue, fraturas ou lacerações de órgãos aumentam a chance de mortalidade. A prestação de cuidados após o resgate também é igualmente importante, de acordo com Jetri Regmi.

“Mesmo aqueles que foram salvos dos escombros podem morrer devido à ‘síndrome do esmagamento’. Isso é comum em catástrofes como terramotos, com indivíduos que ficaram presos sob alvenaria”, acrescentou.

A síndrome do esmagamento, ou rabdomiólise, acontece quando os músculos são danificados devido à pressão e produzem uma toxina. Qundo carga é removida, a toxina espalha-se no corpo, podendo originar sérias consequências para a saúde.

O clima também determina quanto tempo as vítimas podem resistir. Para Richard Edward Moon, as condições meteorológicas do inverno na Turquia pioram a situação. “Um adulto pode suportar temperaturas de até 21ºC sem que o corpo perca a capacidade de reter o calor. Mas quando está mais frio, a história é outra”, disse.

“A velocidade com que a hipotermia ocorrerá depende de quão isolada a pessoa está ou de quanto abrigo ela tem. Mas, no final das contas, muitos dos menos afortunados terão hipotermia nessas circunstâncias”, indicou o especialista.

No verão, pelo contrário, se a área fechada for muito quente, a pessoa pode perder água muito rapidamente, o que também diminuiria suas ‘chances’ de sobrevivência.

Um fator muitas vezes subestimado, de acordo com os especialistas, é o bem-estar e o controle mental. Estes alertam que manter-se forte e com a mente voltada para a sobrevivência também pode ser crucial. “O medo é nossa reação natural, mas não devemos entrar em pânico. Precisamos ser fortes mentalmente para sobreviver”.

Histórias incríveis de sobrevivência

Em 1995, depois que um terramoto atingiu a Coreia do Sul, um homem foi retirado dos escombros após 10 dias. Este sobreviveu a beber água da chuva e a comer uma caixa de cartão e usou um brinquedo de criança para manter a sua mente ativa.

Em maio de 2013, uma mulher foi retirada das ruínas do prédio de uma fábrica em Bangladesh, 17 dias após o desabamento. “Ouvi vozes das equipas de resgate por vários dias. Continuei a bater nos destroços para atrair a sua atenção. Ninguém me ouviu”, disse após o resgate.

No Haiti, após o terramoto de janeiro de 2010 que matou mais de 220 mil pessoas, um homem sobreviveu por 12 dias sob os escombros de uma loja. Mais tarde, outro homem foi encontrado vivo após 27 dias nos escombros.

Em outubro de 2005, dois meses depois que um terramoto atingiu a Caxemira, no lado paquistanês, uma mulher de 40 anos chamada foi resgatada da sua cozinha.

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