PS descreve “ditadura” e explica porque PSD ganha sempre na Madeira

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Homem de Gouveia / LUSA

Paulo Cafôfo, presidente do PS/Madeira

Paulo Cafôfo não vê condições para haver Governo sem novas eleições. Tentou entendimento entre a oposição – que não alinhou.

O Governo da Madeira foi derrubado nesta terça-feira, depois da aprovação da moção de censura apresentada pelo Chega.

Foi a primeira vez que tal aconteceu na Madeira. Toda a oposição votou contra: PS, JPP, Chega, IL e PAN, que juntos reúnem 26 votos – eram precisos 24 para a maioria absoluta.

Amanhã, quinta-feira, o representante da República para Madeira, Ireneu Barreto, vai ouvir todos os partidos com representação parlamentar. Ainda terá audiência com Marcelo Rebelo de Sousa antes do Natal.

O Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma da Madeira obriga à demissão do Governo Regional em caso de moção de censura aprovada; mas não indica que tem de haver eleições. Pode ser formado outro Governo com a actual “arquitectura” do Parlamento.

No entanto, Paulo Cafôfo não acredita nessa via: “Sinceramente o PS não vê condições para isso, no actual contexto político-partidário”, afirmou o líder do PS/Madeira, que recordou as quedas dos Governos de António Costa e do próprio Miguel Albuquerque.

Cafôfo compreende o cansaço dos eleitores devido a eleições consecutivas (Setembro do ano passado e Maio deste ano) mas deixa um apelo: “Não podemos ter medo da democracia. Devemos criar estabilidade. Não podemos andar de crise em crise política, que é o que tem acontecido com Miguel Albuquerque à frente do Governo Regional. Ele é o foco de instabilidade”.

Na RTP, o líder dos socialistas madeirenses pediu “maior apoio, maior força para o PS para formar Governo no dia seguinte” às eleições, já que alega que o PS é o único partido para ser alternativa ao PSD na região.

Paulo Cafôfo tentou criar um entendimento entre (quase) todos os partidos da oposição; só não conversou com o Chega: “Se a oposição se uniu para chumbar o Orçamento e para derrubar o Governo, além de destruir, é preciso construir”.

O líder do PS/Madeira queria que os partidos da oposição se sentassem para “descobrir pontos em comum para um entendimento pré-eleitoral” – mas os outros partidos “não consideraram isso útil”. “A oposição, quando se divide, só beneficia o PSD”, avisa.

A “ditadura”

Após quase 50 anos de actos eleitorais, e mesmo depois dos processos judiciais à volta do actual presidente do Governo Regional, o PSD venceu sempre as eleições na Madeira. O PS não consegue capitalizar o desgaste continuado dos sociais-democratas. E é provável que o PSD ganhe outra vez nas próximas eleições.

Porquê? “É preciso perceber muito bem o que se passa aqui na Madeira. Vivemos numa democracia, mas não é normal nem saudável não haver alternância democrática. É preciso viver na Madeira, ou estar cá, para se entender: o nosso regime democrático está asfixiado“.

“O Governo Regional, pela sua influência na sociedade, controla tudo e todos. Na verdade temos aqui um polvo que, com os seus tentáculos, controla uma sociedade aprisionada. Há aqui muito medo, um medo terrível“, continua o socialista

Paulo Cafôfo fala mesmo em “ditadura” do PSD na região: “Nós vivemos em democracia mas parece que vivemos numa ditadura onde as pessoas têm receio, até de falar!

“Está na hora de as pessoas entenderem que têm o poder nas suas mãos“, apelou Cafôfo, que acusa os sucessivos Governos PSD de nunca terem resolvido os problemas de saúde, habitação e rendimentos na região.

Se o PS ganhar, garante, haverá uma “transição tranquila, sem qualquer tipo de abalo democrático, como o abalo que estamos a viver agora”.

Montenegro estava em silêncio

Paulo Cafôfo foi também questionado sobre o alegado silêncio do primeiro-ministro: “Luís Montenegro tem vergonha de Miguel Albuquerque e do que se passa na Madeira. Por isso, prefere estar calado, que é a única forma de não se comprometer”.

Mas, ainda na mesma noite, Montenegro falou mesmo sobre esta queda do Governo madeirense: acusou PS e Chega de formarem uma “aliança estratégica do contra”.

“Esta cultura do caos, do impasse, da aliança estratégica do contra, é uma cultura que não faz falta à democracia portuguesa”, atirou o presidente do PSD durante o jantar de Natal na Assembleia da República.

E deixou perguntas: “Aconteceu alguma coisa de novo desde que os madeirenses e porto-santenses foram às urnas daúltima vez? Alguma justificação plausível, que não apenas argumentos de lana-caprina, para deitar abaixo um governo legitimado?”.

ZAP //

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7 Comments

  1. “O Governo (…), pela sua influência na sociedade, controla tudo e todos. Na verdade temos aqui um polvo que, com os seus tentáculos, controla uma sociedade aprisionada. Há aqui muito medo, um medo terrível“

    Engraçado que seja um socialista a criticar o mesmo fenómeno que o PS conseguiu implementar no País…

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  2. O polvo madeirense existe desde abril de 1974. Como quase todos “comem” do tacho (leia-se dinheiro dos contribuintes do continente) anda tudo de bico calado. Direta e indiretamente tudo mama do Governo Regional… Quando se dá a independência aos aos ilhéus? Basta de sugar Portugal…

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