Proteína identificada em metástases cerebrais pode ser alvo terapêutico contra o cancro

Uma equipa de investigadores do Instituto de Medicina Molecular e do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte identificou uma proteína presente em metástases cerebrais associada à gravidade da doença e que pode ser um alvo terapêutico

Um novo estudo liderado por Cláudia C. Faria, investigadora do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) e neurocirurgiã no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN-Hospital de Santa Maria), identificou uma proteína presente em metástases cerebrais que pode ser um potencial alvo terapêutico para limitar a progressão da doença.

O estudo, apresentado num artigo publicado esta sexta-feira na revista científica Neuro-Oncology Advances, mostrou que a presença de níveis elevados da proteína UBE2C em amostras de metástases cerebrais de doentes com vários tipos de cancro está associada a pior prognóstico da doença.

Os investigadores começaram por estudar amostras de metástases cerebrais de 30 doentes com cancro originado em diferentes órgãos, fazendo uma análise geral da expressão dos genes nessas amostras.

“Analisámos quais os genes que estão presentes em níveis mais elevados nas metástases cerebrais. Entre os cinco genes mais promissores, identificámos o gene que dá origem à proteína UBE2C, uma proteína importante no ciclo celular”, explica Cláudia C. Faria, corresponding author do estudo.

“Para confirmar a relevância clínica desta descoberta, analisámos um grupo maior de doentes com metástases cerebrais (89 doentes com vários tipos de cancro)”, acrescenta a investigador, “e descobrimos que a presença de níveis elevados de UBE2C está associada a um pior prognóstico”.

Usando ratinhos como modelo de estudo, os investigadores descobriram que os níveis elevados de UBE2C levam a um aumento da disseminação das células tumorais no sistema nervoso central, o que também pode acontecer nos doentes com cancro, tornando a doença mais agressiva e mais difícil de tratar.

Com o objetivo de desenvolver alvos terapêuticos que possam no futuro ser usados na clínica, a equipa de investigação procurou identificar compostos capazes de modular os níveis de UBE2C.

C.C.Faria eta al / IiMM / Neuro-oncology Advances

A presença de níveis elevados de UBE2C está associada a um pior prognóstico

“Testámos um conjunto de 650 fármacos já aprovados para uso em humanos ou usados em estudos clínicos de fase 3 ou 4, e identificámos que um fármaco inibidor que diminui os níveis de UBE2C previne a disseminação de células tumorais no sistema nervoso central, quando administrado numa fase precoce da doença”, acrescenta Eunice Paisana, estudante de doutoramento no iMM e primeira autora do estudo.

“O nosso foco ao longo desta investigação teve sempre em vista contribuir para a descoberta de novos alvos terapêuticos. Na nossa equipa estudamos as amostras biológicas dos doentes para desenvolver investigação que poderá contribuir para a prática clínica no futuro”, acrescenta Eunice Paisana.

“De facto, as metástases cerebrais são a principal causa de morbilidade e mortalidade associada ao cancro. O prognóstico é particularmente negativo quando as células tumorais disseminam ao longo do sistema nervoso, tornando a doença mais agressiva e difícil de responder aos tratamentos atuais. Por isso é tão urgente desenvolver novas terapias”, acrescenta Cláudia Faria sobre a relevância clínica do estudo.

Neste estudo, os investigadores descobriram a associação da proteína UBE2C com a disseminação de células de cancro no sistema nervoso central, que é indicadora do prognóstico da doença e um potencial alvo terapêutico para prevenir a metastização cerebral.

ZAP // iMM

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