Uma equipa de cientistas portugueses está a estudar a proteína BolA, de forma a tentar combater o facto de a salmonela ser um dos grandes problemas existentes na atualidade, já que esta bactéria pode contaminar a água e os alimentos e ser uma das principais causas de gastroenterites no mundo.
Ao estudarem larvas, a equipa – liderada por Cecília Arraiano, do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa – percebeu que a proteína BolA é necessária para que a salmonela viva dentro do hospedeiro e consiga multiplicar-se. Em suma, esta proteína deixa a bactéria salmonela mais resistente.
De acordo com o Público, antes de 2015, os cientistas notaram que quando tiravam a BolA da bactéria Escherichia coli, esta ficava mais sensível ao calor ou o pH, por exemplo.
Concluíram também, já em 2015, que a proteína ligava e desligava certos genes na Escherichia coli. “E, quando fizemos uma análise global, vimos que afetava os genes dos flagelos – apêndices que conferem mobilidade à bactéria”, explica a investigadora.
“Fazia também com que as bactérias não se movimentassem tanto e se agarrassem às superfícies por onde passavam, formando biofilmes – películas aderentes de uma comunidade bacteriana”, fazendo com que, assim, as bactérias se tornem mais resistentes.
No ano passado, a mesma equipa publicou um artigo científico na mBio no qual explicam que uma pequena molécula, que tem relação com a BolA, é importante para a formação do biofilme. Observaram que quando havia menos BolA, essa molécula existia em menor quantidade. No entanto, mesmo que essa molécula estivesse mais presente, o biofilme não se formava da mesma maneira sem BolA.
Agora, avança o Público, a equipa quis ver como esta proteína afeta a virulência da salmonela, fazendo um estudo em larvas (Galleria mellonella). O estudo, publicado na Applied and Environmental Microbiology, contou com a colaboração de Arsénio Fialho, do Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Foi injetada nas larvas uma pequena concentração de salmonela e verificou-se que estas morriam em 24 horas e, injetando novamente mas sem salmonela, nada acontecia.
Deu-se então às larvas uma concentração com salmonela e sem BolA e estas ou não morriam ou sobreviviam mais. Por último, voltou a injetar-se o líquido com salmonela e sem BolA e, depois, com um método genético, conseguiu-se introduzir a BolA. Chegaram assim à conclusão que matava como a concentração com salmonelas.
“Concluímos que a presença de BolA é necessária para que a salmonela consiga sobreviver dentro do hospedeiro, multiplicar-se e matar as lagartas. A salmonela precisa dessa proteína para ficar resistente”, explica a cientista Cecília Arraiano.
Está provado que muitos genes deste modelo animal têm os mesmos efeitos em humanos. “A larva Galleria possui um sistema imunitário que simula o sistema imunitário inato dos humanos”, acrescenta Arsénio Fialho. “O modelo tem-se mostrado muito promissor para estudar respostas terapêuticas de fármacos às infeções microbianas”.