Professores e pais contra provas de aferição digitais. Já há apelos à “abstenção em massa”

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SESI SP / Flickr

A obrigatoriedade de as provas de aferição do Ensino Básico serem todas em formato digital está a gerar polémica entre pais e professores. Já há apelos à “abstenção em massa” e alguns docentes a apresentar declarações de “escusa de responsabilidade”.

Há professores a pedir aos directores das escolas que não realizem as provas de aferição digitais, ameaçando com a apresentação de declarações de “escusa de responsabilidade” no caso de avançarem.

As provas de aferição não contam para a nota, destinando-se a alunos dos 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade. Vão realizar-se entre Maio e Junho próximos.

Mas o professor Paulo Guinote, autor do blogue O Meu Quintal, considera que não estão reunidas “as condições indispensáveis para que essas provas decorram com normalidade e de modo a que os alunos tenham um desempenho correspondente às aprendizagens desenvolvidas na disciplina“.

Assim, avançou com um pedido de “escusa de responsabilidade”, desafiando outros professores para lhe seguirem os passos.

Guinote fala em “pseudo-aferições” e nota que as provas vão “aferir tudo menos as competências ou conhecimentos dos alunos nas disciplinas envolvidas”. O professor acrescenta que “é um disparate” que “se avoluma quanto mais novos e menor formação digital têm”.

“Estas provas só prejudicam uma verdadeira recuperação das aprendizagens, provocando uma perturbação inútil e indesejada ao longo de quase todo o 3º período”, acrescenta Guinote, frisando que “não têm a devida preparação e deveriam manter-se mais um par de anos em papel, com uma progressão prudente e voluntária para o formato digital”.

Só interessam aos “defensores do costismo”

Também o professor do primeiro ciclo Alberto Veronesi, do blogue VozProf, avança com a “escusa de responsabilidade”, realçando que “fazer as provas de aferição em suporte digital é um verdadeiro absurdo”. O docente refere-se a notícias que notam que os alunos do 2º ano são “demasiado novos para provas em computador”.

“As actuais provas de aferição têm apenas significado para o IAVE [Instituto de Avaliação Educativa] e alguns defensores do costismo que “à força” querem impingir esta cretinice que é o digital a substituir aquilo que deveriam ser as boas práticas, sobretudo a este nível de ensino”, atira ainda Veronesi.

O professor ainda acusa o Ministério da Educação de “fazer das crianças cobaias de experimentalismos bacocos que visam simplesmente provar o sucesso, mascarado, de que o digital está a “dar cartas””.

Apelo à “abstenção em massa” dos pais

Em declarações ao Público, Veronesi fala em reuniões que teve com pais, notando que alguns lhe disseram que “estavam seriamente a pensar não trazer os miúdos no dia das provas“.

E a psicóloga Tânia Correia, que tem um filho no 2º ano, já lançou um apelo à “abstenção em massa” às provas de aferição deste ano de ensino.

Assim, alguns professores estão a pressionar os directores das escolas, com o respaldo do apoio dos pais, para a não realização das provas em formato digital.

Até porque existem também preocupações com questões logísticas, nomeadamente em termos da disponibilidade de computadores suficientes e dos professores de Tecnologias de Informação e Comunicação necessários para assegurar apoio aos alunos.

O presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, diz ao Público que não conhece nenhum caso de directores de escolas que estejam a recusar a realização das provas, ou a ponderar fazê-lo. “Para já não estamos a pensar nisso”, assegura.

Apesar disso, Filinto Lima assume que é contra as provas em formato digital, mas nota que deve ser o Ministério da Educação a decidir se as mantém, ou não, no próximo ano lectivo.

ZAP //

3 Comments

    • Dizer BASTA ou CHEGA?! Quer-me parecer que nas próximas eleições os portugueses vão dizer muito CHEGA…embora eu não dê para esse peditório.

  1. Além de não terem efeito na avaliação (porque é que o ME não volta a adotar os “testes intermédios”, que aferem, mas também têm efeitos na avaliação dos alunos?), as provas de aferição digitais vão provocar que o foco dos alunos seja a questão instrumental (domínio técnico), em detrimento das aprendizagens essenciais.

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