A aposta em Matt Gaetz está a ser contestada pelos Republicanos, dado que o congressista foi o responsável pela destituição de Kevin McCarthy. Gaetz também já foi investigado por suspeitas de ter pago para ter relações sexuais com uma menor de idade.
As escolhas de Donald Trump para compor a sua nova administração estão a dar que falar. Desta feita, a nomeação do polémico congressista Matt Gaetz para ser o seu procurador-geral apanhou de surpresa até os Republicanos.
Inicialmente eleito em 2016, Gaetz é um dos congressistas mais leais a Donald Trump e pertence ao Freedom Caucus, uma franja mais radical dos Republicanos dentro da Câmara dos Representantes.
Tal como Trump, Gaetz não é estranho a façanhas que dão que falar, sendo um hábito seu interromper ou perturbar os trabalhos normais no Congresso. Numa ocasião, Gaetz até entrou de rompate numa sala fechada onde os Democratas estavam a ouvir uma deposição.
Em 2018, foi amplamente criticado por ter convidado um negacionista do Holocausto para assistir ao discurso do Estado da União de Trump. Em 2019, Gaetz deu outra vez que falar por contratar um redator de discursos que tinha sido despedido pela administração Trump por ter participado numa conferência com nacionalistas brancos de extrema-direita.
O seu caso mais polémico surgiu em 2021, quando foi revelado que o Departamento de Justiça — que Gaetz vai agora chefiar — estava a investigar o congressista por suspeitas de ter pago para ter relações sexuais com uma jovem menor de idade, estando em causa alegações de tráfico sexual e uso de drogas ilícitas.
O FBI chegou até a apreender os telemóveis de Gaetz e de uma ex-namorada sua, mas a investigação acabou por ser arquivada em fevereiro de 2023.
Em outubro do ano passado, Gaetz também ganhou anti-corpos dentro do próprio partido quando liderou o esforço para a destituição de Kevin McCarthy da liderança da Câmara dos Representantes.
Na altura, Gaetz justificou a decisão com o acordo bipartidário que McCarthy fez com os Democratas para travar o shutdown do Governo, mas o ex-Presidente da Câmara dos Representantes tem outra versão.
Numa entrevista ao programa “Face the Nation” da CBS, McCarthy disse que “isto é pessoal para o Matt” e acusou o congressista de se estar a vingar devido à sua recusa de interferir na investigação que o Comité de Ética da Câmara dos Representantes abriu às alegações de tráfico sexual.
McCarthy guardou rancor a Gaetz e até financiou pessoalmente um adversário seu do nas primárias, que acabou por perder. A investigação do Comité de Ética foi formalmente encerrada esta quarta-feira, quando Gaetz se demitiu do Congresso para se poder juntar à equipa de Trump.
“Uma pessoa de torpeza moral”
A nomeação está a ser muito criticada dentro dos Republicanos, levantando dúvidas sobre conflitos de interesse — já que Gaetz vai agora liderar um Departamento que recentemente o investigou.
“Não acho que seja uma nomeação séria para procurador-geral. Precisamos de ter um procurador-geral sério. Esta não estava no meu cartão do bingo“, declarou Lisa Murkowski, Senadora Republicana do Alasca, à NBC News.
De acordo com o Axios, foram ouvidos vários suspiros de surpresa na Câmara dos Representantes quando a nomeação foi conhecida. Um congressista anónimo avança que os seus colegadas ficaram “chocados e enojados“. “Nós queria-mo-lo fora da Câmara dos Representantes, mas não era nisto que estávamos a pensar”, brinca outra fonte anónima.
“A minha reação foi… surpresa. O nome dele ainda não tinha sido ouvido por mim ou, do que sei, por qualquer outro membro da nossa conferência”, afirmou ainda Michael Guest, o presidente do Comité de Ética da Câmara.
John Bolton, ex-conselheiro de segurança nacional de Trump, descreveu mesmo a escolha como “a pior nomeação para uma posição de gabinete na história americana”. “Gaetz não é só totalmente incompetente para este cargo, como também não tem o caráter. Ele é uma pessoa de torpeza moral”, considera.
A escolha de Trump terá agora de ser aprovada pelo Senado, mas há quem já faça prognósticos: “Gaetz tem uma probabilidade maior de jantar com a rainha Isabel II do que de ser confirmado pelo Senado”, antecipa o congressista Max Miller.