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Príncipe saudita prefere “solução política e pacífica” para tensões com Irão

USDoD / Wikimedia

O príncipe saudita Mohammed bin Salman

O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, avisa que os preços do petróleo podem atingir “valores inimaginavelmente altos” se o mundo não se unir para travar o Irão. Sublinhou, no entanto, que “a solução política e pacífica é muito melhor do que a militar”.

Para Mohammed bin Salman, os ataques de 14 de setembro, que danificaram o maior complexo mundial de processamento de petróleo na Arábia Saudita e comprometeram mais de 5% do fornecimento global de petróleo, foram um ato de guerra do Irão, segundo contou em entrevista ao programa 60 Minutos da CBS, difundida no domingo e citada esta segunda-feira pelo Expresso.

Washington, Riade e algumas capitais europeias responsabilizaram Teerão pelos ataques. O regime iraniano negou qualquer envolvimento, enquanto os rebeldes houthis, apoiados por Teerão na guerra do Iémen, reivindicaram a autoria.

“Se o mundo não tomar uma ação forte e firme para deter o Irão, assistiremos a outras escaladas que ameaçarão os interesses mundiais”, preveniu o príncipe herdeiro.

Mohammed bin Salman defendeu que o Presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, deve encontrar-se com o seu homólogo iraniano, Hassan Rouhani, para juntos delinearem um novo acordo sobre o programa nuclear e a influência de Teerão no Médio Oriente. Os esforços para juntar os dois líderes na semana passada, durante a Assembleia Geral da ONU, falharam.

rouhani.ir

O presidente do Irão, Hassan Rohani (Rouhani)

As tensões entre Washington e Teerão escalaram após a retirada unilateral dos EUA de um acordo internacional para o nuclear no ano passado e o restabelecimento de sanções contra o regime iraniano.

“Isto foi um erro”

Dias antes do primeiro aniversário da morte do jornalista Jamal Khashoggi num consulado saudita em Istambul, que se assinala na quarta-feira, Mohammed bin Salman negou ter ordenado o assassínio.

“Absolutamente não”, referiu, assumindo, ainda assim, responsabilidade total, uma vez que o assassínio “foi cometido por indivíduos que trabalhavam para o Governo saudita”. “Isto foi um erro e eu devo tomar todas as medidas para evitar tal coisa no futuro”, precisou, classificando o assassínio como “hediondo”.

Questionado sobre como um ato destes poderia ter acontecido sem o seu conhecimento, respondeu: “Há quem pense que eu devia saber o que fazem diariamente três milhões de pessoas que trabalham para o Governo saudita? É impossível que os três milhões enviem os seus relatórios diários ao líder ou à segunda pessoa na hierarquia do Governo saudita”.

“As investigações estão em curso e, quando forem provadas acusações contra alguém, independentemente da sua posição, essa pessoa será levada a tribunal, sem exceção”, garantiu o príncipe herdeiro.

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O Jornalista saudita Jamal Khashoggi

A agência de notícias Reuters recordou que 11 suspeitos sauditas já compareceram em tribunal mas foram realizadas poucas audiências, tendo estas ficado envoltas em secretismo. Um relatório das Nações Unidas apelou à investigação do príncipe herdeiro e de outros responsáveis sauditas.

De acordo com a agência Lusa, o procurador-geral solicitou a pena de morte para cinco dos 11 suspeitos. Até hoje, ninguém foi condenado.

Relacionamento entre Washington e Riade

A CIA e alguns Governos ocidentais afirmaram acreditar que Mohammed bin Salman ordenou o assassínio mas Riade tem reiteradamente negado o seu envolvimento. Após uma recusa total de responsabilidade saudita, as autoridades acabaram por apontar o dedo a agentes que terão agido em nome individual.

De acordo com o Ministério Público saudita, o então vice-chefe dos serviços secretos ordenou o repatriamento de Jamal Khashoggi mas o negociador principal acabou por pedir a sua morte após o falhanço das conversações para o seu regresso.

Jamal Khashoggi, um colunista do Washington Post, foi visto pela última vez no consulado saudita em Istambul a 02 de outubro de 2018, onde deveria receber a documentação necessária para o casamento com a sua noiva turca. O jornalista não voltou a sair do consulado, tendo o seu corpo sido desmembrado e retirado do edifício e os seus restos mortais não foram encontrados.

Questionado sobre as críticas de alguns congressistas americanos na sequência da morte de Jamal Khashoggi e da campanha militar liderada pela Arábia Saudita no Iémen, Mohammed bin Salman disse que o relacionamento entre Washington e Riade “é muito maior do que isso”. Donald Trump tem-se oposto aos esforços do Congresso para bloquear a venda de armas dos EUA à Arábia Saudita.

O príncipe herdeiro também reiterou o apelo para que o Irão deixasse de apoiar os houthis no Iémen, mostrando-se aberto a “todas as iniciativas para uma solução política” com vista ao fim da guerra.

Turquia mantém esforços para esclarecer assassínio

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse esta segunda-feira que o seu país continuará os esforços para esclarecer o assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, que ocorreu na embaixada saudita em Istambul, em outubro de 2018, noticiou a agência Lusa.

Num artigo publicado no Washington Post, Recep Tayyip Erdogan descreveu o assassínio do jornalista, morto por um grupo de agentes sauditas, como “provavelmente, o mais controverso e determinante incidente do século XXI”.

Recep Tayyip Erdogan disse que a Turquia vai continuar a questionar “onde estão os restos mortais de Khashoggi, quem assinou a sentença de morte do jornalista saudita e quem enviou os 15 assassinos em dois aviões para Istambul”.

TP, ZAP //

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