Responsável admite que o número referente à totalidade do dia seja ainda mais elevado.
No primeiro dia de canais abertos para denúncias de abusos sexuais na igreja católica portuguesa, ontem, a linha telefónica “esteve quase sempre preenchida” e ao final da tarde já tinham sido validados “cerca de 50 testemunhos”.
O coordenador da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa, o pedopsiquiatra Pedro Strecht, disse, numa resposta escrita enviada à agência Lusa, que “a linha telefónica esteve quase sempre preenchida” no primeiro dia aberto à recolha de denúncias e testemunhos através dos diversos canais abertos para o efeito.
“Por inquérito online ou preenchido em telefonema foram já validados cerca de 50 testemunhos”, disse Pedro Strecht, sublinhando, numa declaração por volta das 18:30, que a linha telefónica só encerra pelas 20:00, deixando antever que o número possa ser superior. “A comissão congratula-se com o facto de a sua mensagem inicial ter sido bem acolhida por pessoas que foram vítimas deste tipo de abusos”, disse ainda Pedro Strecht.
A comissão que vai investigar abusos sexuais na igreja católica em Portugal começou hoje a receber denúncias de vítimas, de casos ocorridos desde 1950, que podem ser remetidos às autoridades e investigados se os crimes ainda não tiverem prescrito.
A comissão recebe testemunhos de vítimas que o queiram fazer, ou de terceiros que queiram denunciar casos que conheçam, sendo que o grupo de trabalho tem mecanismos instalados para triar falsos testemunhos que possam surgir, disse Pedro Strecht.
As denúncias e testemunhos podem chegar à comissão através do preenchimento de um inquérito online, mas também do número de telefone (917110000), disponível entre as 10:00 e as 20:00 diariamente, mas que não pretende ser nem uma “linha SOS, nem de apoio psicológico”, como frisou Filipa Tavares, assistente social com experiência em acompanhamento de crianças e famílias, que integra a comissão.
Os testemunhos podem também chegar por email – [email protected] – por escrito, enviadas para um apartado que vai estar disponível no site da comissão ou presencialmente, mediante marcação prévia de entrevista.
A comissão pretende recolher testemunhos e denúncias de pessoas que tenham sofrido abusos na infância e adolescência, até aos 18 anos.
O trabalho desta comissão independente vai decorrer ao longo deste ano, até 31 de dezembro, num espaço físico “descaracterizado” e “autónomo” da Igreja, estando prevista a apresentação de um relatório em dezembro. O financiamento dos trabalhos será assegurado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), mas estará aberto a eventuais contribuições de outras instituições, que serão divulgadas “mais à frente” deste processo, segundo Pedro Strecht.
No final dos seus trabalhos, a comissão vai elaborar um relatório, a ser entregue à CEP, que decidirá que ações tomar.
Na apresentação da comissão, em dezembro, o presidente da CEP, o bispo José Ornelas, reivindicou a importância de se trilhar “um caminho de verdade, sem preconceitos nem encobrimentos” para a Igreja Católica portuguesa, reforçando o interesse da Igreja em apurar a verdade, mas evitando traçar expectativas sobre as descobertas e conclusões da comissão, a quem garantiu que terá meios de trabalho.
Em conferência de imprensa na terça-feira, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), foi apresentada publicamente a composição da comissão, que, para além do coordenador, integra o psiquiatra Daniel Sampaio, o antigo ministro da Justiça Álvaro Laborinho Lúcio, a socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e a cineasta Catarina Vasconcelos.
// Lusa