O antigo primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, morreu na sexta-feira, 8 de julho, com 67 anos, depois de ter sido alvejado enquanto marcava presença num comício do Partido Liberal Democrático.
O presumível homicida de Shinzo Abe começou a planear o ataque contra o ex-primeiro-ministro japonês no outono passado, segundo as informações recolhidas pela polícia japonesa, que também sugerem que o suspeito preparou a operação de forma meticulosa.
As autoridades acreditam que o suspeito decidiu tentar matar Abe depois de ver uma mensagem de vídeo, em setembro do ano passado, gravada pelo ex-presidente para uma organização afiliada à Igreja da Unificação, que o suposto assassino “odiava”, segundo detalhes revelados pelos media japoneses. O detido, Tetsuya Yamagami, confessou à polícia que atacou Abe por causa das suas supostas ligações a uma organização religiosa que lhe causou problemas familiares.
A filial japonesa da Igreja da Unificação já tinha confirmado que a mãe de Yamagami era membro desse grupo e não quis comentar as supostas doações que a mulher teria feito à organização e que a teriam levado à falência, de acordo com a história contada pelo detido. Yamagami também disse à polícia que pretendia inicialmente atacar algum líder da organização religiosa, antes de marcar Abe.
O suspeito escolheu o comício que Shinzo Abe realizou na última sexta-feira, na cidade de Nara (oeste) depois de ter pensado em testar o ataque noutro discurso do político no dia anterior, num auditório de outra cidade e com acesso restrito.
O comício da passada sexta-feira decorreu na rua, frente a uma estação de comboios e com um dispositivo de segurança composto por vários agentes, mas sem qualquer separação física entre o político e os cidadãos que o queriam ouvir, algo que é comum em eventos deste tipo no Japão.
Yamagami foi ao local uma hora e meia antes do ataque, segundo as imagens captadas pelas câmaras de segurança, aparentemente em busca de uma posição ideal para por em prática o seu plano. Com uma arma semelhante a uma espingarda caseira, o atacante aproximou-se de Abe por trás e disparou uma primeira vez a uma distância de sete metros e, uma segunda, a cinco metros.
A arma do crime consistia em dois tubos de metal fixados com fita adesiva e montados num painel de madeira. Era capaz de lançar até seis projéteis a cada disparo, o que lhe conferia maior precisão e letalidade, segundo o próprio atacante.
Yamagami recebeu treino em montagem e uso de armas de fogo quando trabalhou para as Forças de Autodefesa Marítima do Japão (Exército), entre 2002 e 2005, e começou a fabricar as suas próprias armas há cerca de um ano, inspirado em vídeos que encontrou online. Segundo contou às autoridades, comprou na internet a pólvora usada no ataque.
As cerimónias fúnebres de Abe tiveram início esta manhã, em Tóquio, onde multidões se reuniram para ver passar o carro funerário que transportava o corpo do antigo líder. Em linha com a cultura japonesa, os indivíduos erguiam os braços ou baixavam a cabeça, em sinal de respeito.
O Governo do Japão anunciou ontem que irá condecorar a título póstumo o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe com o Colar da Ordem do Crisântemo, a mais alta condecoração do país, reconhecendo desta forma o contributo de Abe, que foi o primeiro-ministro nipónico que mais tempo se manteve no cargo, com um mandato em 2006 e outro entre 2012 e 2020.