O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, criticou a “interferência” da União Europeia (UE), que no domingo criticou as detenções na Turquia de diversos jornalistas opositores ao seu regime.
“A União Europeia não pode interferir nas medidas tomadas (…) no quadro legal, contra elementos que ameaçam a nossa segurança nacional”, referiu Erdogan, em declarações transmitidas pela televisão esta segunda-feira. “Apenas devem meter-se nos seus assuntos“, acrescentou.
Em paralelo, a polícia turca prosseguiu hoje, entre fortes medidas de segurança, os interrogatórios de mais de 20 jornalistas com ligações ao movimento do pregador islamita Fethullah Gulen, detidos desde domingo sob a acusação de participação em “organização terrorista”.
Cerca de 500 manifestantes concentraram-se hoje frente à direção geral de segurança, onde decorrem os interrogatórios, aguardando a libertação dos detidos, numa operação dirigida contra 31 pessoas.
Segundo a agência noticiosa Anadolu, três dos 27 detidos – guionistas e produtores de uma popular série do canal Samanyolu – foram libertados esta manhã após interrogatórios.
Os detidos ocupam, na sua maioria, cargos de direção nos media visados, apesar de também terem sido detidos diversos polícias, todos com supostas ligações a Gulen.
“O dia negro da democracia”
As detenções de domingo assinalam uma nova etapa do conflito que opõe Erdogan à organização de Fetullah Gulen, designada “hizmet” (o serviço), desencadeado no final de 2013 e que implicou o fim da sua aliança com o Partido da Justiça do Desenvolvimento (AKP, no poder desde 2002) e liderado pelo atual chefe de Estado.
Apoiante incondicional do governo do AKP, e considerado muito influente na polícia e na justiça turcas, a confraria de Gulen entrou em rota de colisão com o executivo após a decisão de Erdogan, então ainda primeiro-ministro, de encerrar as escolas de apoio escolar privado, uma importante fonte de receitas do “hizmet”.
O movimento Gulen, até então o aliado mais forte de Erdogan e do AKP – e com influência nos meios judiciais, policiais e mediáticos – foi então acusado de formar um “Estado paralelo” e convertido no principal inimigo do governo.
Gulen vive exilado nos Estados Unidos desde 1999, quando foi acusado de tentar converter a República secular da Turquia, fundada em 1923, num Estado islâmico.
A sua rede é conhecida como um movimento religioso transnacional com atividades em diversos campos, incluindo saúde, educação e financiamento de meios de comunicação.
Ancara acusa agora o seu antigo aliado de atuar contra o governo em cooperação com a justiça e a polícia.
Os media favoráveis ao AKP congratularam-se hoje coma operação, enquanto outros a definiram como como ataque à liberdade de imprensa e à democracia.
“O dia negro da democracia“, referia hoje em manchete do diário Zaman, cujo diretor, Ekrem Cumanli, é um dos detidos.
Os interrogatórios deverão ficar concluídos hoje, antes de a justiça decidir sobre a libertação ou detenção dos suspeitos.
/Lusa