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Português descobre na Gronelândia um dos primeiros animais do Atlântico primitivo

António Cotrim / Lusa

O paleontólogo Octávio Mateus, da Universidade de Lisboa, fundador do Museu da Lourinhã

O paleontólogo Octávio Mateus, único português em expedições paleontológicas à Gronelândia, anunciou este sábado a descoberta de fósseis de plesiossauro, um réptil marinho que testemunha a primeira incursão no mar durante abertura do Atlântico há 200 milhões de anos.

A descoberta do plesiossauro mais antigo da Gronelândia, com cerca de 200 milhões de anos, e dos primeiros animais marinhos a explorar aquela zona, no início da separação dos continentes europeu e norte-americano, foi anunciada pelos investigadores Jesper Milan, Octávio Mateus, Lars Clemmensen e Marco Marzola.

O Professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, que integrou várias expedições internacionais à Gronelândia, explicou que os cientistas tinham escavado apenas animais de “ambientes terrestres” do Triásico, com 220 milhões de anos, como anfíbios, dinossauros e fitossauros, répteis semelhantes a crocodilos.

“Em camadas um pouco mais acima, portanto mais recentes, do Jurássico Inferior, encontrámos três ossinhos – vértebras e costelas – que são de um plesiossauro, que é um animal marinho, logo é um dos primeiros vertebrados marinhos ligados à abertura do Atlântico e testemunha uma mudança ligada à abertura do Atlântico”, descreveu.

Pela escassez do material fóssil, os cientistas não conseguem identificar o género e a espécie de plesiossauro.  No último verão, os quatro investigadores escavaram na Gronelândia vestígios de fitossauros de uma espécie ainda por determinar.

(dr) Rodrigo Vega / Deviant Art

Plesiosauria é uma ordem de répteis marinhos fósseis do clado Sauropterygia.  Juntamente com os mosassauros, os plesiossauros estavam no topo da cadeia alimentar dos oceanos

Plesiosauria é uma ordem de répteis marinhos fósseis do clado Sauropterygia. Juntamente com os mosassauros, os plesiossauros estavam no topo da cadeia alimentar dos oceanos

A descoberta poderá trazer novas explicações para a paleogeografia. “Se for mais aparentado a uma espécie europeia, quer dizer que do ponto de vista paleogeográfico aquela zona da Gronelândia tinha conexões terrestres com a Europa“, explicou o paleontólogo português, um dos fundadores do Museu da Lourinhã.

“Se for mais aparentado a espécies norte-americanas, mostra o contrário”, apontou o especialista, esclarecendo que “a maioria da fauna daquela região tem uma afinidade europeia maior, o que é estranho, porque do ponto de vista geológico a Gronelândia pertence ao continente americano”.

Todo aquele território está por explorar. É uma oportunidade para os paleontólogos descobrirem material novo”, disse Octávio Mateus.

Sendo um local inóspito e polar, os paleontólogos são transportados de helicóptero para as expedições e têm de levar tendas para pernoitar, mantimentos alimentares e foram ensinados a manusear armas para lidar com possíveis encontros com ursos polares.

Os achados escavados na última expedição científica acabam de chegar ao laboratório do Museu da Lourinhã para serem preparados e estudados e seguirem depois para exposição num museu dinamarquês, o Geocenter Moensklint.

“É uma forma de dar continuidade a um trabalho de relacionamento com instituições de vários países com projetos e materiais que vieram de outras parte do globo, desde Moçambique, Angola e Estados Unidos da América”, afirmou Lubélia Gonçalves, presidente da direção da associação que gere o museu.

Trata-se da maior coleção estrangeira recebida pelo Museu da Lourinhã.

// Lusa

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