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Portugal, rei da canábis? “Nenhum país tem melhores condições”

FAI Therapeutics

Produção de produtos à base de canábis na empresa portuguesa FAI Therapeutics, do grupo Iberfar

“Califórnia 2.0” aspira a tornar-se o centro europeu indústria do “ouro verde”. Portugal “está claramente na vanguarda dos países europeus que produzem canábis para uso medicinal”.

Com o seu clima quente e temperado — e um quadro regulamentar favorável — Portugal posiciona-se cada vez mais como um dos principais produtores europeus de canábis medicinal.

Com condições semelhantes às da Califórnia, o país está a tornar-se um íman para produtores e investidores globais da indústria em grande crescimento — cujas receitas a nível mundial devem atingir os 64,73 mil milhões de dólares este ano.

Localizada perto de Serpa, no sudeste de Portugal, uma quinta de 5,4 hectares, propriedade da FAI Therapeutics, é exemplo do crescimento da indústria no país.

À AFP, o agrónomo José Martins destaca as vantagens ambientais de Portugal. “Nenhum outro país da Europa tem melhores condições ambientais”, diz na quinta, equipada com medidas de segurança como câmaras de infravermelhos e arame farpado, que produz anualmente cerca de 30 toneladas de flores de canábis.

A aptidão de Portugal para o cultivo de canábis atraiu mais de 60 empresas autorizadas e 170 pedidos pendentes para cultivar, produzir ou distribuir canábis medicinal. O país exportou 12 toneladas de produtos medicinais à base de canábis no ano passado, principalmente para a Alemanha, Polónia, Espanha e Austrália.

Legislação é selo de confiança

A indústria ganhou impulso após a legislação portuguesa de 2019 que permite medicamentos à base de marijuana.

Em março, a FAI teve luz verde do Infarmed para lançar ao mercado um fármaco à base da planta de canábis para fins medicinais — o primeiro medicamento 100% português produzido à base de canábis: trata-se de uma solução oral de CBD especialmente formulada para fins medicinais, nomeadamente para amenizar a dor crónica associada a um grande leque de condições, entre as quais cancro.

Este novo quadro regulamentar estabelece padrões de qualidade rigorosos, e tranquiliza os compradores internacionais sobre a segurança e eficácia dos produtos  portugueses de canábis.  Os regulamentos são o selo de confiança para os clientes internacionais, como explica à agência de notícias francesa Pedro Ferraz da Costa, CEO do Grupo Iberfar, que detém a quinta de Serpa.

A AFP traz também exemplos como o da empresa multinacional Tilray, uma canadiana que estabeleceu operações no país em 2019. As suas instalações, perto de Cantanhede, incluem laboratórios, unidades de processamento e locais de embalagem, de onde se exporta óleo de canábis para regiões da América Latina.

O mercado global de canábis medicinal, avaliado em 15,8 mil milhões de euros em 2022, deverá crescer para mais de 61,9 mil milhões de euros até 2030, segundo a empresa de consultoria Grand View Research, um crescimento de 291% impulsionado pela crescente procura de tratamentos para a dor crónica, efeitos secundários da terapia do cancro, epilepsia e outras condições.

“Portugal está claramente na vanguarda dos países europeus que produzem canábis para uso medicinal”, disse José Tempero, diretor médico da Tilray. “Há uma enorme procura por parte dos pacientes”, afirmou Bernard Babel, diretor da empresa farmacêutica alemã de canábis Avextra, que também instalou parte da sua atividade em Portugal.

“Há falta de informação entre profissionais de saúde” em Portugal

Apesar da sua próspera indústria de produção, Portugal enfrenta alguns desafios internos para tornar a canábis medicinal acessível.

Os doentes referem dificuldades em obter receitas, uma vez que muitos médicos continuam relutantes em prescrever tratamentos à base de canábis e os custos não são totalmente cobertos pelo sistema público de saúde.

“Há falta de informação” entre os profissionais de saúde, afirmou Lara Silva, cuja filha de seis anos com epilepsia grave beneficia do CBD, um derivado da canábis.  Devido à disponibilidade limitada em Portugal, teve de comprar o medicamento em Espanha.

ZAP //

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