As descobertas sobre como o cérebro funciona nos supermercados podem ser úteis para o estudo da desorientação e falta de memória espacial típicas dos doentes de Alzheimer.
É um fenómeno que assusta muitas crianças e que até motiva birras, mas que também continua a acontecer na idade adulta. Entra no supermercado, pega no carrinho, vira à direita, e vai em frente, vira à esquerda e à direita outra vez para ir ao corredor das bolachas… e o corredor das bolachas não é esse?
Finalmente, já há uma resposta para este enigma sobre o que faz com que seja tão frequente ficarmos perdidos nos labirintos de corredores dos supermercados. Já há muito que os investigadores estão intrigados pela capacidade do cérebro reter memórias espaciais, especialmente em locais semelhantes, como lojas da mesma cadeia — e uma equipa de psicólogos da Universidade do Arizona descobriu a razão.
“Até ao nosso estudo, não sabíamos como o cérebro podia distinguir estas coisas“, afirma Arne Ekstrom, professor de psicologia e um dos autores do estudo publicado na Nature Communications.
Os resultados do estudo podem também ajudar na luta contra doenças como Alzheimer ou derrames que levam à desorientação ou memória espacial pobre. “As implicações aqui são de que talvez este mecanismo de repulsa neural é algo que pode ser comprometido com a idade. Se entendemos os mecanismos sob os quais os cérebros saudáveis e jovens funcionam, talvez possamos entender melhor o que corre mal com as doenças neurológicas e o envelhecimento”, acrescenta.
A amostra de 27 participantes viu um vídeo animado da perspectiva de alguém a caminhar em três cidades virtuais. As cidades eram quase idênticas e cada uma tinha um campo verde circular com um supermercado no centro e seis outras lojas estavam espalhadas pela cidade.
As lojas estavam todas no mesmo lugar em cada cidade, mas nem todas as cidades tinham os mesmos supermercados. Três eram comuns às três cidades, três outras estavam apenas em duas cidades e cada cidade tinha uma loja única.
Os vídeos levavam os participantes numa caminhada virtual desde a loja na baixa até cada um dos outros supermercados de cada cidade. Os participantes tiveram de memorizar onde cada loja estava localizada em cada cidade, onde se relacionavam uma com a outra, e quanto tempo demoraram a caminhar entre certas lojas.
Foram depois questionados sobre a localização dos supermercados, algo que foi difícil devido às parecenças entre as cidades. Quem conseguiu pelo menos 80% no teste viu os vídeos e respondeu às questões novamente, mas desta vez com um dispositivo que registou imagens dos seus cérebros.
Os padrões da actividade cerebral eram muito semelhantes quando as cidades eram parecidas. No entanto, quando questionados sobre as lojas que apareciam em mais do que uma cidade, as imagens dos cérebros já eram muito diferentes, o que indica que os cérebros dos participantes encaravam as cidades repetidas como mais distintas do que as duas lojas que eram mesmo completamente diferentes.
Os resultados sugerem que é assim que os nossos cérebros equilibram a retenção de novas informações sem um uso limitado das suas capacidades com a reaprendizagem de processos semelhantes que acontecem todos os dias.
“Este é o desafio do cérebro: muitas coisas na nossa vida diária são semelhantes, então não há razão para usar os nossos recursos limitados para reaprender experiências muito semelhantes. Mas ao mesmo tempo, há coisas na nossa vida quotidiana que temos de considerar diferentes para podermos aprender”, revela Ekrstrom
A investigação também fortalece a teoria sobre onde o cérebro guarda informações sobre as semelhanças entre dois ambientes, mostrando que isso acontece no córtex pré-fronta.
Ekstrom também quer aplicar as descobertas ao estudo do Alzheimer, estando a planear transformar uma sala no seu laboratório num espaço de realidade vitual onde os investigadores podem criar um supermercado virtual para avaliar como os idosos ou pessoas em risco de ter a doença se movimentam e aprendem sobre novos espaços.