Porque é que nos esquecemos de coisas importantes? A culpa nem sempre é nossa

A maioria dos seres humanos já experimentou o embaraço de se esquecer de fazer algo importante que prometemos a alguém que iríamos fazer. Por vezes, faz-se todos os esforços possíveis para lembrar, mas mesmo assim a tarefa acaba por escapar. Até agora, não parecia haver uma investigação que explorasse esta temática, mas um novo estudo veio esclarecer que não importa o quanto se tenta lembrar dos planos, há sempre um elemento de sorte envolvido.

Na visão dos psicólogos, os humanos não conseguem manter ou cumprir todos os planos ou objetivos que traçam para si ao início do dia, já que a nossa memória de trabalho não permite mantê-las ativas durante todo esse tempo. A memória de trabalho é o tipo de memória envolvida quando se mantém alguma informação na mente para resolver problemas (por exemplo, subtrair 377 de 527) ou para escrever uma lista de produtos a comprar no trabalho (quando a caneta e o papel estão do outro lado da sala).

A memória de trabalho é limitada, tanto na sua capacidade como na duração do tempo em que podemos manter a informação. É por isso que as pessoas precisam de memória a longo prazo para guardar as suas intenções. A memória a longo prazo, por sua vez, é um armazenamento de informação mantido pelo cérebro fora da mente consciente. Acontece que todas estas tarefas estão a competir para entrar na esfera da memória do trabalho.

Os investigadores construíram um modelo matemático da forma como a mente seleciona uma intenção para recordar mais tarde. De acordo com o The Conversation, basta pensar em cada intenção na memória a longo prazo como cavalos individuais numa corrida. A velocidade de um “cavalo de intenção” é influenciada pela forma como a intenção é correspondida pelo contexto e a importância da intenção para a pessoa.

Por exemplo, a intenção de tomar um comprimido amarelo no momento em que engoliu a última garfada do jantar pode ter uma correspondência mais forte com o contexto (comprimidos amarelos e engolir a última dentada) do que um simples plano para tomar um medicamento. A importância de uma intenção é quão gratificante ela será para si.

A correspondência e a importância influenciam a velocidade das intenções na sua corrida para a seleção. Isto acontece de forma subconsciente. A intenção surge para a pessoa, muitas vezes enquanto ela está envolvida noutra tarefa.

Mas a forte correspondência de uma intenção com o contexto e a sua elevada importância não garantem a sua seleção por si só. Mesmo que uma tarefa seja muito importante para uma pessoa e muito gratificante, há sempre a possibilidade de o indivíduo se esquecer e executar outra irrelevante ou menos importante. E isso significa que o acaso está sempre envolvido na recordação das intenções.

Num cenário mais extremo, os suspeitos em casos criminais têm a sua liberdade restringida. Pode ser-lhes pedido que façam uma chamada telefónica diária ou que assistam a uma marcação numa esquadra todos os dias, durante um período de tempo prolongado. Eventualmente podem esquecer uma destas sessões, o que pode ser tomado como um sinal de que não valorizam as suas obrigações legais.

Será que estamos a exigir demasiado da capacidade das pessoas para se lembrarem dos seus objectivos? A investigação calculou que a probabilidade de esquecer uma intenção é de 3%-10%. Um estudo, que pediu aos participantes que guardassem um diário de quando se aperceberam que se esqueceram de alguma coisa, calculou que mais de metade das falhas de memória quotidianas são de recordar intenções. Muitos factores podem influenciar o risco de esquecer, tais como idade, stress, condições psiquiátricas e sono.

ZAP //

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