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Pôr o filho de castigo: quando não é eficaz e até cria confusão

A idade, o impacto no desenvolvimento, a contextualização, o diálogo, ajudar a corrigir em vez de o trancar no quarto “para pensar”.

Quem é mãe ou pai já terá imposto imensos castigos ao filho ou à filha. Ou porque partiu algo depois de vários avisos, ou porque não arrumou o que desarrumou, ou porque disse que tinha tomado banho e não tomou.

Mas será que castigar resulta? A resposta não é linear.

Por princípio, o mais correcto é os pais mostrarem que há limites, que há sempre consequências do que os filhos fazem, sobretudo quando são comportamentos considerados errados ou inapropriados.

Corrigir o mais novo nesses momentos é habitual – mas aqui entra a pergunta: corrigir… como?

Castigar é o mais imediato. E talvez o mais fácil. Para a criança, não é bom ficar de castigo. Mas provavelmente para muitos pais também não.

Contexto

Antes do castigo, convém haver supervisão, orientação, contexto: “É preciso haver vigilância para adverti-la no momento em que ela fizer algo”.

“Impor regras que não são claras, como chamá-la mal-educada, sem explicar o que isso significa, ou dizer que ela não se comportou bem, sem contextualizar o que seria um bom comportamento, também são atitudes que não educam”, explica o psiquiatra Bonifácio Rodrigues, no portal Lunetas.

Atenção

A atenção é um factor essencial. Tal como desenvolvimento cognitivo e o raciocínio: a criança pode demorar a entender o que é atenção negativa ou positiva.

“Ela só sabe que, quando desobedece ou faz algo errado, recebe atenção dos pais, mesmo que seja a gritar e a reclamar. Essa atenção negativa pode ser chamada de reforçadora. Assim, ao invés de entender a punição, pode compreendê-la como um ‘ganho secundário’ – apesar de negativo, não deixa de ser uma forma de atenção”.

Ou seja, crianças que carecem de atenção podem usar a desobediência para conquistar essa atenção; e o castigo terá um efeito inverso do que seria suposto.

Corrigir sem castigar

Muitos especialistas concordam num aspecto: muitas vezes, ajudar a criança a corrigir algo é mais eficaz do que trancá-la no quarto “para pensar”.

Por exemplo: não varreu o que sujou ao comer. Em vez de a colocar de castigo, mostra o que poderia ter feito (num primeiro exemplo, a mãe ou o pai até podem ir buscar a vassoura, mas é a criança que varre) e até mostra – voltamos às consequências – que alguém poderia escorregar e cair naquele pedaço do chão.

A criança vai ver, ouvir e sentir. Deve compreender melhor do que uma reacção furiosa.

E vai varrer a seguir? Sim, é provável.

Idade

Há crianças que começam a ser castigadas quando ainda são bebés. Aí é que o resultado dificilmente será positivo.

Em média, até aos 2 anos, o castigo não serve para nada: “A criança precisa de ter um nível de memória para que consiga compreender causa e efeito – algo que geralmente é a partir dos 2 anos, quando ela já tem um melhor entendimento e noção temporal”.

“Para que ela entenda, precisa de saber o motivo da sanção e o porquê de ter sido privada de um determinado privilégio. Esse tempo de entendimento também não pode ser muito longo, senão a criança perde o propósito do castigo”, esclarece o psiquiatra.

Normalmente a criança, quando tem apenas meses ou pouco mais de 1 ano, ouve muitas vezes a palavra “não”, mas não lhe são explicados os motivos.

Avisar sem cumprir

Outro caso frequente é anunciar castigos que depois não são cumpridos: “Vais ficar uma semana sem o telemóvel” – e no dia seguinte a criança já tem o telemóvel outra vez.

Isso não é nada eficaz. Aliás, até confunde as crianças – que são muito boas em reparar em inconsistências. A criança passa a ver esses “furos” nas regras, os pais perdem credibilidade.

Diálogo, memória visual

Segundo Bonifácio Rodrigues, a melhor solução é sempre optar pelo diálogo. Limites sim, mas muita conversa e explicação do contexto também.

Vigiar de forma constante e consistente também é muito importante: “Estar sempre a acompanhar, como forma de prevenir atitudes inapropriadas, deixando regras muito claras do que os filhos podem ou não fazer, e as suas consequências caso o combinado não seja cumprido. Isso pode ser feito com quadros ou cartolinas, por exemplo, pois as crianças têm memória visual melhor que verbal”.

Valorizar o positivo

Provavelmente há muitos pais que nem se apercebem, mas o automático é criticar o que consideramos errado e não valorizar o que consideramos certo, ou até bonito (não só em relação aos filhos, diga-se).

Por isso, é importante mudar essa tendência: quando a criança faz algo bom, o incentivo deve ser maior do que a escala do castigo quando faz algo mal.

Quando a criança fizer algo que era suposto, por menor que seja, deve ser incentivada, elogiada e valorizada. Se estiver a desobedecer, provavelmente quanto menos atenção receber, melhor.

Impacto

Castigos físicos e psicológicos – alguns são abusos – podem prejudicar o desenvolvimento psicossocial.

E há adultos que ainda hoje têm traumas por causa do que sofreram na infância nesse aspecto.

Dar uma palmada nas crianças pode originar alterações similares no desenvolvimento cerebral àquelas que recebem agressões mais severas. As crianças agredidas também costumam tem mais depressão, ansiedade, distúrbios comportamentais e abuso de drogas na adolescência.

Ainda neste assunto, a psicóloga Marisa Carvalho alertou na CNN que: os castigos corporais são ineficazes na educação das crianças (é comum as crianças repetirem o comportamento); que a saúde mental, aprendizagem, violência interpessoal e relação pais-filhos são afectadas; e que um castigo não é útil na educação da criança, na resolução de problemas ou na redução de comportamentos considerados desadequados.

Cada casa é um caso

Claro que, chegando ao fim do artigo, reforçamos o que poderia estar no início: cada mãe e cada pai sabem o que é melhor para o seu filho.

E isso acontece (quase) sempre.

ZAP //

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