O governador do Estado de Nova Jérsia, Chris Christie, apresentou esta quinta-feira desculpas públicas e despediu uma colaboradora, procurando separar-se de um escândalo político comprometedor das suas ambições para as eleições presidenciais de 2016.
“Venho hoje aqui para apresentar as minhas desculpas (…). Estou embaraçado e humilhado pelo comportamento de alguns membros da minha equipa”, declarou Christie, durante uma conferência de imprensa, que se prolongou por duas horas, durante a qual anunciou ter despedido com efeitos imediatos a sua chefe de gabinete adjunta, Bridget Anne Kelly.
Polémicas mensagens por correio eletrónico e telemóvel, reveladas na quarta-feira, mostraram que Kelly tomara a iniciativa de encerrar várias vias de acesso à ponte George Washington, uma enorme artéria que liga Nova Jérsia a Nova Iorque, para se vingar de um presidente de câmara democrata, que se tinha recusado a apoiar a recandidatura de Christie.
O procurador federal de Nova Jérsia informou hoje que vai ser aberto um inquérito sobre o encerramento, que na altura foi apresentado como “um estudo de tráfego”.
Em resultado deste encerramento, o número de vias de acesso foi reduzido de quatro para uma e os engarrafamentos causados classificados como ‘monstros’, tendo-se prolongado por vários dias.
“Eu não sabia. Eu não estou implicado de forma nenhuma””, insistiu o republicano Christie, afirmando que tinha sido enganado, traído, que Kelly lhe tinha mentido e que nunca tinha sido informado da situação pela sua equipa.
Christie classificou o comportamento dos envolvidos como uma “estupidez abjecta” e “sem coração”, confessou-se “triste” e “consternado”, afirmando que estava de “coração partido”. Insistiu mesmo que o ocorrido não representa a “cultura” da sua organização.
“Apresento as minhas desculpas por ter falhado enquanto governador em compreender mais cedo a verdadeira natureza deste problema”, afirmou Christie, lembrando que há quatro semanas interrogou toda a sua equipa que decidiu o encerramento das vias.
Antes deste encerramento, o autarca de Fort Lee, Mark Solovich, tinha recusado o seu apoio a Christie.
As mensagens explosivas, reveladas na quarta-feira, mostraram que foi Kelly quem teve a iniciativa.
“É o momento de criar problemas de circulação em Fort Lee“, escreveu Kelly, em 13 de agosto, em mensagem destinada a David Wildstein, nomeado por Christie para a Autoridade Portuária de Nova Iorque e Nova Jérsia, que controla as pontes.
“Percebido”, respondeu este.
Em 19 de setembro, o presidente da câmara de Fort Lee, que não tinha sido avisado do encerramento de vias, pediu a intervenção de um alto responsável da Autoridade Portuária Bill Baroni, explicando que as crianças não conseguiam ir à escola, por causa dos engarrafamentos.
“Faço mal em sorrir?”, pergunta alguém não identificado a outra pessoa, também não identificada, numa das mensagens publicadas.
“Não”, responde o seu interlocutor.
“Sinto-me mal por causa das crianças”, respondeu a primeira pessoa.
“São as crianças dos eleitores de Buono”, respondeu-lhe o outro, em referência à democrata Barbara Buono, batida largamente em novembro por Christie.
Quando as presidenciais de 2016 já causam um grande debate nos EUA, os democratas apoderaram-se imediatamente do designado ‘Bridgegate‘.
“Ele [Christie] é o responsável por esta situação”, declarou o democrata Bill Pascrell, membro da Câmara dos Representantes eleito por Nova Jérsia.
“Como é que ele pode ter criado uma tal cultura nos seus gabinetes, que permite aos seus responsáveis pensar que este comportamento e que esta vingança eram aceitáveis?”, questionou a presidente do Comité Nacional Democrata e eleita também para a Câmara, pelo Estado da florida.
Wildstein, que se demitiu em dezembro, compareceu hoje perante uma comissão do parlamento de Nova Jérsia. Invocou o seu direito de permanecer em silêncio, recusando responder às perguntas sobre as suas trocas de mensagens com Kelly.
/Lusa