Polícia quer censurar relatório de Sue Gray às festas em Downing Street. Oposição fala em “conluio” para proteger Boris

Will Oliver / EPA

A polícia argumenta que a publicação integral do relatório de Sue Gray antes do fim das investigações pode enviesar as suas conclusões, mas a oposição não está convencida e quer conhecer o documento na totalidade.

É o derradeiro relatório que Boris Johnson usa como defesa sempre que lhe pedem para se demitir. A alta funcionária pública Sue Gray está há várias semanas a trabalhar num relatório sobre as festas em Downing Street durante a pandemia e o primeiro-ministro britânico afirma que se deve esperar pela sua publicação antes de se tomar alguma decisão sobre o seu futuro à frente do Governo.

Esperava-se que o documento fosse revelado esta semana, mas este ainda não foi conhecido e a sua publicação pode ser adiada ainda mais depois da Scotland Yard ter revelado que pediu que as referências a questões que está a investigar sejam apagadas, nota o The Guardian.

A autoridade negou inicialmente que estava a travar o relatório, mas admitiu na sexta-feira que pediu que seja feita “uma referência mínima” a questões importantes para que a sua própria investigação não fosse influenciada pelos resultados de Gray.

Já a Polícia Metropolitana afirmou que “não pediu qualquer limitação a outros eventos no relatório ou que este fosse adiado”, mas que quer “evitar qualquer interferência” com a sua investigação, que anunciou na terça-feira.

Perante a possibilidade de ser divulgada uma versão rasurada do relatório, a oposição já fez saber que está descontente. Keir Starmer, líder dos Trabalhistas, acusou o Governo de estar distraído nas “charadas criadas por Johnson“, considerando “ofensivo” que os Ministros estejam apenas preocupados com a investigação e não com darem respostas aos problemas dos britânicos.

Starmer também apelou a que o relatório de Gray fosse publicado “na totalidade, o mais cedo possível” e incentivou a Met a “continuar com a sua investigação”.

Já Alistair Carmichael, deputado dos Liberais-Democratas, recordou que o partido já tinha pedido uma investigação policial há semanas e que a polícia precisa de ter a confiança da população.

“O relatório de Sue Gray deve ser publicado integralmente, incluindo todas as fotos, mensagens e outras provas. Se for censurado agora, uma versão completa deve ser publicada logo que acabe a investigação da polícia”, exigiu.

O líder dos Liberais-Democratas, Ed Davey, fala mesmo num “conluio” entre a polícia e o Governo que pode “prejudicar a nossa política durante gerações”. Ian Blackford, do Partido Nacional da Escócia, concorda e acusou as autoridades de tentarem proteger Boris Johnson.

Vários deputados Conservadores que são opositores de Boris também já pediram publicamente a publicação completa do relatório, como é o caso de Tobias Ellwood, que considera a sua censura “simplesmente errada” e que até defende que Sue Gray ignore o pedido da Polícia Metropolitana.

Roger Gale, outro deputado Conservador que quer a demissão de Johnson, já descreveu a situação como uma “farsa” que pode atrasar um possível desafio a um primeiro-ministro “com os dias contados”, cita a BBC.

O porta-voz de Boris Johnson já respondeu dizendo que a Polícia Metropolitana “deve ter o tempo e o espaço” para concluir o seu “trabalho independente”. Downing Street também já se comprometeu com a publicação do relatório de Gray, mesmo que este esta censurado, mas recusou confirmar se a versão completa será publicada mais tarde, já após as investigações das autoridades estarem concluídas.

Boris priorizou o regaste de animais na saída caótica do Afeganistão

Esta polémica sobre o relatório das festas surge meros dias depois de uma revelação de um email ter confirmado que Boris Johnson interveio pessoalmente para autorizar o salvamento de 173 cães e gatos do Afeganistão no rescaldo do regresso dos talibãs ao poder, em Agosto, numa altura em que muitas pessoas estavam desesperadas para tentar sair do país.

A acusação não é nova, tendo o diplomata Raphael Marshall já denunciado o caos na saída do Afeganistão em Dezembro. Na altura, Boris negou a acusação de que tinha dado prioridade aos animais, descrevendo-a como “completamente absurda”.

“O que posso dizer é que resgatar 15 mil pessoas de Cabul da forma como o fizemos no Verão, foi um dos feitos militares mais excepcionais dos últimos 50 anos ou mais”, afirmou em Dezembro.

Agora, um email enviado para uma equipa do Ministério dos Negócios Estrangeiros que estava a gerir a evacuação foi revelado, mostrando que um responsável cujo o nome foi rasurado tinha dito que Boris tinha autorizado o salvamento dos animais da organização de caridade Nowzad.

No mesmo dia em que esse email foi enviado, Trudy Harrison, secretária parlamentar de Boris, contactou uma empresa privada para assegurar que um avião ia resgatar os animais e dos trabalhadores da organização.
Estas revelações têm aumentado ainda mais de tom o coro de vozes que pede a demissão de Boris, com a oposição a dizer que, mais uma vez, o primeiro-ministro mentiu aos britânicos.

Adriana Peixoto, ZAP //

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