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Os planetas bebés marinam numa “sopa” de cianeto

NASA

Uma equipa de cientistas conseguiu mapear a composição química de discos protoplanetários à volta de cinco estrelas jovens relativamente próximas da Terra.

Os planetas formam-se em discos em torno de estrelas jovens que contêm moléculas de elevado interesse para prever as composições futuras dos planetas.

A equipa da Universidade de Harvard analisou cinco discos protoplanetários, todos com idades compreendidas entre 1 e 10 milhões de anos, a algumas centenas de anos-luz da Terra. “Isto significa que estão numa época de formação ativa do planeta”, explicou a astroquímica Karin Öberg, ao Live Science.

O programa Molecules with ALMA at Planet-forming Scales (MAPS) determina não só as moléculas dos discos protoplanetários, como também a sua localização. “Os planetas podem formar-se a muitas distâncias diferentes da estrela”, disse a investigadora, salientando que, por esse motivo, é importante saber que substâncias químicas estão disponíveis em cada local para dar à luz estes futuros planetas.

Uma das descobertas mais emocionantes para a equipa foi a abundância e distribuição de uma classe de moléculas conhecidas como cianetos. O membro mais simples desta família, o cianeto de hidrogénio, é considerado um veneno, apesar de muitas teorias sobre a origem da vida defenderem um papel importante para esta classe química.

“Observá-los em grande abundância significa que os planetas se estão a formar no tipo de sopa que gostaríamos de ver” a alimentar o aparecimento da vida, acrescentou Öberg. Os cianetos tendem a concentrar-se nas partes interiores e médias dos discos estudados, exatamente onde se espera que surjam os planetas.

Estas moléculas só se poderiam formar num ambiente de baixo teor de oxigénio com muito carbono, o que sugere que os planetas nascerão com atmosferas ricas em carbono – outro ponto a favor dos seres vivos.

Os resultados deste estudo mostram que pelo menos alguns dos blocos de construção orgânica da vida estão disponíveis noutros sistemas estelares, mas isso não torna necessariamente mais provável que a humanidade encontre organismos vivos noutros mundos.

“É promissor do ponto de vista da origem da vida, mas ainda há muito trabalho a fazer”, disse Öberg.

A investigação também sugere que uma grande quantidade de formação química complexa acontece ainda antes do nascimento de estrelas e planetas, o que significa que estas moléculas vêm de nuvens interestelares e estão, portanto, disseminadas no Espaço.

O primeiro de 20 artigos científicos deste extenso projeto de mapeamento, que serão publicados no The Astrophysical Journal, está disponível no arXiv.

Liliana Malainho, ZAP //

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