Com as primeiras sondagens a colocar o Vox à frente dos conservadores, extrema-direita ganha mais força nas negociações em Castela e Leão.
De acordo com o Público, os mais poderosos dirigentes do Partido Popular estão convencidos que Pablo Casado deixou de ter condições para chegar a primeiro-ministro e querem a sua demissão.
A maioria das opiniões continua a ficar em privado, mas há cada vez menos distância entre o que a imprensa espanhola garante que os barões do partido opinam, e as suas palavras em público.
Enquanto os pesos-pesados não o dizem às claras, um grupo de quadros e militantes começou a fazer circular um manifesto onde se pede que uma comissão de gestão dirija o partido até à realização de um congresso extraordinário, no prazo “mais curto possível”.
Tenemos que estar a la altura de nuestro país. Se lo debemos a nuestros militantes y a todos los españoles. pic.twitter.com/OJo1SLCFkO
— Adrián Pardo (@adrianpardo_es) February 21, 2022
As primeiras sondagens conhecidas depois da crise interna sem precedentes, centrada na guerra entre Casado e a presidente da comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, na última quinta-feira, mostram já consequências.
O PP foi ultrapassado nas intenções de voto a nível nacional pelo Vox e o partido de extrema-direita a ultrapassar os 20%.
Para muitos militantes, as trocas públicas de acusações de “espionagem”, “corrupção” e “deslealdade” tornaram claro que alguém vai cair, e entre Casado e Ayuso os analistas coincidem que Ayuso reúne mais apoios.
“Precisamos de uma solução urgente“, afirmou o presidente da região da Galiza, Alberto Núñez Feijóo.
O também presidente do PP galego exige a Casado uma “última decisão” — tendo proferido esta afirmação em público.
Em privado, segundo vários jornais espanhóis, o homem que é visto como o mais que provável sucessor de Casado já lhe disse claramente que tem de se demitir.
“Tens de renunciar já“, escreve o diário El País, assegurando que foi essa a mensagem de Feijóo na conversa telefónica de domingo com Casado – enquanto Casado terá tentado convencê-lo a adiar um congresso até Ayuso ser acusada judicialmente.
Estará a tentar provar que teve razão em investigar a presidente de Madrid por causa do contrato do seu governo que beneficiou o irmão, Tomás Díaz Ayuso.
Segundo o jornal El Diario, Feijóo, Ayuso, e o presidente da região da Andaluzia, Juan Manuel Moreno, uniram-se para deixar cair Casado e garantir que o congresso para escolher o novo líder acontece já em março.
De acordo com o El Mundo, Feijóo não vê “nenhuma possibilidade” de que Casado seja presidente do Governo e exigiu-lhe que se demita depois de ter falado com o resto dos barões regionais, incluindo Alfonso Fernández Mañueco, de Castela e Leão.
“Temos a obrigação de não criar mais problemas a Espanha” porque “nem os militantes, nem o partido nem Espanha merecem esta situação de colapso”, afirmou Feijóo. É a Casado, insistiu, que “corresponde tomar esta última decisão”.
Enquanto o partido se autodestrói em direto a partir da capital, em Castela e Leão a posição de Mañueco nas negociações com o Vox é cada vez mais frágil.
“É hoje muito mais fácil que o Vox entre no governo do que há quatro dias” defende Gabiela Ortega, diretora do Centro Internacional de Governo e Marketing Político da Universidade Camilo José Cela.
O presidente reeleito há uma semana acreditava que poderia assumir sozinho o poder, conseguindo que a extrema-direita se abstivesse para formar governo.
É difícil que mantenha essa convicção: “O PP está muito ferido, não tem margem de manobra. Terão de ceder a vice-presidência”, afirma Ortega, em declarações ao jornal online infoLibre, recordando a exigência do partido de Santiago Abascal depois de subir de um para 13 deputados.
Quanto ao futuro do PP, há cada vez mais vozes a pedir ao presidente galego para avançar, principalmente depois de Ayuso ter assegurado que o seu “lugar é em Madrid”. Feijóo soma quatro maiorias absolutas na Galiza e o respeito da maioria dos dirigentes.
Quando o Governo de Mariano Rajoy caiu, em 2018, foi apontado como candidato, mas acabou por recuar, afirmando que não podia “faltar aos galegos”.
Muitos no partido acreditam que agora chegou o seu momento e que só por isso se assumiu como mediador público da crise.