Cinco perguntas ainda sem resposta sobre o ataque dos bolsonaristas em Brasília

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André Borges / EPA

A invasão das sedes dos três poderes em Brasília, no domingo, resultou na prisão de pelo menos 1,2 mil pessoas nas últimas 24 horas, segundo dados do Ministério da Justiça do Brasil.

Foram abertos inquéritos para chegar à identidade dos invasores, os seus possíveis financiadores e se houve conivência das autoridades locais.

Os especialistas em segurança pública apontam que há perguntas importantes sobre os eventos que antecederam a invasão que ainda não foram respondidas. A BBC Brasil ouviu o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Renato Sérgio de Lima, que elencou cinco questões ainda sem resposta sobre os episódios do domingo.

A atuação de Anderson Torres

Na avaliação de Renato Sérgio de Lima, a atuação ou omissão durante a crise do agora ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres é um dos pontos que precisa ser melhor esclarecido.

Torres foi ministro da Justiça de Bolsonaro e era tido como um dos seus aliados mais fiéis. Logo após a posse de Lula, Torres foi nomeado por Ibaneis Rocha como secretário de segurança, cargo que exercia antes de assumir o Ministério da Justiça.

Durante a sua gestão como ministro da Justiça, foi alvo de críticas da oposição por, supostamente, usar o seu cargo para favorecer Jair Bolsonaro.

Um dos episódios mais marcantes foi a operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em rodovias do Nordeste que parou diversos autocarros que transportavam eleitores de Lula para as suas zonas eleitorais. À época, ele negou qualquer irregularidade.

As suspeitas sobre a sua conivência com os atos do domingo aumentaram depois de  circular a informação de que, no fim de semana, ele estaria na Flórida, o mesmo estado onde Bolsonaro está desde antes do fim de seu mandato.

“Em relação a Anderson Torres, há duas perguntas que precisam ser respondidas. A primeira é: Por que é que ele viajou para os Estados Unidos nas vésperas de uma manifestação prevista? Essa manifestação estava a ser divulgada há dias. O que fez o chefe da segurança pública viajar nas vésperas de um evento tão importante?”, indaga Lima.

“A segunda é: ele encontrou-se com Bolsonaro e tratou dessas manifestações com o ex-presidente? Se esse tipo de conversa ocorreu, é algo que a sociedade precisa desaber”, disse o especialista.

Na sua página no Twitter, Torres admitiu que está no exterior, mas não deu indicações sobre onde estaria. Também rebateu as críticas de que teria sido conivente.

“Sempre pautei a minha vida pelo respeito às leis e às instituições […] nesse sentido, lamento profundamente que sejam levantadas hipóteses absurdas de qualquer conivência minha com as barbáries que assistimos”, disse Torres.

Atuação do comando da PM do Distrito Federal

Renato Sérgio de Lima pontua que um outro ponto é o papel do comandante-geral da PM do Distrito Federal, coronel Fábio Augusto Vieira.

“É preciso saber os motivos que levaram a PM a permitir o acesso de pedestres à Esplanada dos Ministérios apesar de todos os alertas indicarem que havia a possibilidade de atentados”, disse Lima.

Outro ponto que chamou atenção durante a invasão foram as imagens de militares da PM do Distrito Federal a tirar selfies e fotografias com bolsonaristas enquanto os prédios públicos eram invadidos.

Numa conferência de imprensa, o ministro da Justiça, Flávio Dino, responsabilizou o aparato de segurança do Distrito Federal pela invasão. Segundo Dino, o acordo entre o governo local e o governo federal era de que os bolsonaristas não teriam acesso à Esplanada dos Ministérios.

Dino afirmou, no entanto, que na manhã do domingo, foi informado que as autoridades locais tinham mudado de ideias e permitido a entrada de pedestres.

“Isto mostra que ela (invasão) era absolutamente evitável se não fosse essa mudança de planeamento de última hora. As investigações vão mostrar as razões (para a mudança). Se foi puramente um erro técnico ou se houve, realmente, uma estratégia, um ardil”, disse o ministro.

Na segunda-feira, o Ministério Público Federal (MPF) abriu um inquérito para apurar a suposta omissão do alto comando da PM do Distrito Federal no atos do domingo. Enquanto isso, Dino afirmou ainda que o interventor federal na Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Capelli, deverá fazer mudanças no comando da PM.

Qual o papel do governador Ibaneis Rocha?

Renato Sérgio de Lima avalia que tão importante quanto entender como se deu a atuação de Torres e do coronel Fábio Augusto Vieira é ter detalhes sobre como se portou o governador afastado Ibaneis Rocha nas horas que antecederam o episódio.

“Ibaneis era, em última instância, o responsável pelo que estava a ocorrer. Ele tinha acesso a informações, relatórios de inteligência e outros dados. A atuação do governador nos momentos que antecederam a invasão precisa de ser esclarecida”, diz o especialista.

O situação política de Ibaneis ficou complicada ainda no domingo quando Alexandre de Moraes o afastou do cargo por 90 dias. O ministro classificou a atuação do governador reeleito do Distrito Federal como “dolosamente omissiva”.

 

No Twitter, o governador afastado disse respeitar a decisão de Alexandre de Moraes e que vai aguardar “com serenidade” o desenrolar das investigações sobre a invasão.

Na conferência de imprensa, Dino disse não ver, até o momento, elementos jurídicos que possam levar à responsabilização jurídica de Ibaneis Rocha.

“Não há até aqui, juridicamente falando, nenhum elemento de que ele (Ibaneis) foi responsável. Evidentemente, cabe ao Supremo e ao Judiciário julgar e discernir quanto a isso”, disse Flávio Dino.

Por que é que o Batalhão da Guarda Presidencial não impediu a invasão?

Apesar do foco na atuação da Polícia Militar durante a ação dos militantes bolsonaristas, Renato Sérgio de Lima aponta que é preciso entender porquê os soldados do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) não terem impedido a invasão do Palácio do Planalto.

De acordo com o site do BGP, a unidade tem como uma de suas atribuições a de “guardar as principais instalações do Governo Federal e do Comando do Exército, na capital da República”.

“Talvez o BGP não pudesse impedir a invasão das sedes do Congresso, do STF e do Planalto ao mesmo tempo, mas acho que seria plausível imaginar que eles impedissem a invasão do Palácio do Planalto, pelo menos”, disse.

Normalmente, estes soldados ficam posicionados em diferentes pontos do Palácio do Planalto e contam com escudos e equipamentos de proteção para protestos. No dia da invasão, porém, eles não estiveram à altura dos invasores.

Flávio Dino foi questionado sobre a atuação do BGP, mas disse que a questão deveria ser encaminhada ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), atualmente comandado pelo general da reserva Gonçalves Dias.

ZAP // BBC

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2 Comments

  1. Fico muito triste quando vejo reportagens que não traduzem a realidade do que está acontecendo no Brasil. Primeiro o título da reportagem está errado. Não são “Ataques de bolsonaristas”. A sociedade brasileira como um todo está se manifestando quanto à : Perde de nossa liberdade. Perda de nosso direito de expressão, autoritarismo do Supremo Tribunal Federal, Atuação político partidária deste mesmo STF. Peço encarecidamente que aprofundem o que realmente aconteceu neste episódio…é claro …se vocês tiverem coragem. Obrigado.

  2. São pessoas que não toleram um bandido no poder, são antibandidoRISTAS, essa seria a melhor definição. Seria muita interessante senhores de 80 anos e crianças invadem um prédio e derrubam um governo, só na mente de lesados intelectuais, isso é só uma manifestação de indignação. Há que se ver que existem pessoas que provocaram a quebradeira que não são parte deste grupo, estavam lá para criar cenário, mas como disse lula, é melhor não saber quem são.

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