Uma equipa de cientistas sequenciou o genoma do peixe-gelo-austral (Chaenocephalus aceratus), tendo sido descodificados mais de 30 mil genes.
O peixe-gelo-austral (Chaenocephalus aceratus) perdeu, durante a sua evolução, glóbulos vermelhos. Uma equipa de cientistas mapeou 30.773 genes deste peixe que vive na Antártida, e localizou-os ao longo dos cromossomas.
“O mapa indica os genes que se adaptaram ou desapareceram à medida que os peixes se aclimatizaram durante o aumento das concentrações de oxigénio enquanto o oceano Antártico arrefecia”, lê-se num comunicado da Universidade do Oregon, nos Estados Unidos.
Na prática, o peixe-gelo-austral perdeu glóbulos vermelhos (que transportam oxigénio) para conseguir sobreviver ao oceano gelado, mas, mesmo assim, este peixe não tem falta de oxigénio. E não, não é magia: a baixas temperaturas, a saturação de oxigénio na água do mar e a de todos os fluidos corporais do peixe, é tão elevada que o transporte de oxigénio deixa de ser necessário.
Citado pelo Público, Manfred Schartl, da Universidade de Würzburgo, na Alemanha, realça que outra das particularidades que distingue este peixe é a capacidade de produzir proteínas “anticongelantes” que o protegem de morrer ao frio.
“As populações de peixe-gelo apareceram no final do Plioceno [há 3,3 a três milhões de anos] depois de as temperaturas na Antártida terem descido 2,5 graus Celsius”, destaca Schartl. Há 77 milhões de anos, o peixe-gelo-austral divergiu da linhagem do seu antepassado comum com o esgana-gatas.
O estudo, publicado recentemente na Nature Ecology & Evolution, pode ser essencial para a investigação biomédica, uma vez que, “sob condições naturais, estes peixes desenvolvem fenótipos que correspondem a doenças humanas”, conclui o cientista Manfred Schartl.