Ostras e corais servem de escudo costeiro e ‘roubam’ a energia das ondas.
À medida que as alterações climáticas aumentam a frequência e a gravidade das tempestades, as zonas costeiras enfrentam riscos cada vez maiores, com ondas mais fortes e com a subida do nível do mar.
Defesas como quebra-mares e barreiras de retenção revelaram-se dispendiosas nos últimos anos e, por vezes, ineficazes. Por isso, o Departamento de Defesa dos EUA (DoD) está a explorar uma abordagem caricata: utilizar a própria natureza — ou, mais especificamente, ostras — como escudo costeiro.
‘Roubar’ a energia das ondas
A Agência de Projetos de Investigação Avançada da Defesa (DARPA), lançou recentemente uma iniciativa denominada “Reefense” que visa desenvolver recifes artificiais, que serão colonizados por ostras e corais para proteger as costas dos efeitos devastadores dos furacões e das tempestades.
A ideia é simples: combinar estruturas de recifes artificiais com as capacidades naturais de absorção de ondas das ostras e dos corais para criar barreiras híbridas, capazes de ‘roubar’ até 90% da energia às ondas.
Nos EUA, pelo menos, essa é uma das soluções em cima da mesa para proceder à proteção das 1.700 bases costeiras que o exército dos EUA gere globalmente, avança a DARPA ao Wired.
“Os modelos são sempre imperfeitos. São sempre uma réplica de alguma coisa”, diz David Bushek, que dirige o Haskin Shellfish Research Laboratory na Rutgers. “Em vez de blindagem, estamos a usar a capacidade natural da natureza para absorver a energia das ondas”, explica Donna Marie Bilkovic, professora do Instituto de Ciências Marinhas da Virgínia.
Defesa com base na natureza
O protótipo de estrutura de recife, concebido por uma equipa da Universidade de Rutgers, é um dos principais projetos do Reefense. É composto por três estruturas em forma de ‘V’ — cada uma com cerca de 20 toneladas e 50 metros de largura.
De acordo com os testes divulgados, este protótipo já consegue absorver 70% da energia das ondas, mas o objetivo é aumentar esta capacidade para 90% quando as ostras terminarem de colonizar a estrutura.
As ostras revelaram-se muito eficazes para quebrar as ondas devido às superfícies complexas e irregulares que formam quando se amontoam umas sobre as outras. As estruturas abrandam as ondas e absorvem a sua energia e, simultaneamente, crescem ao longo do tempo e acompanham a subida do nível do mar — ao contrário dos quebra-mares tradicionais, que apenas podem desviar a energia das ondas e agravar a erosão noutros locais.
Além disso, a equipa está a trabalhar na criação de ostras resistentes a doenças, que poderão prosperar e ‘fintar’ infeções por protozoários que têm atormentado a espécie durante décadas.
Design baseado em corais no Havai
Em regiões tropicais, como o Havai, os corais são a melhor defesa natural contra a energia das ondas.
Os recifes de coral criam uma barreira porosa e inclinada que diminui a intensidade das ondas em longas distâncias.
O projeto da Universidade do Havai está a instalar duas barreiras de recife com 50 metros de largura perto de uma base do Corpo de Fuzileiros Navais em Oahu. Estas barreiras serão preenchidas com grandes buracos e paredes finas para gerar turbulência, dissipando ainda mais a energia das ondas.
A equipa também está a utilizar colónias de corais criadas em laboratório para ajudar a estabelecer o recife mais rapidamente.
Estrutura de coral híbrido de Miami
Outra abordagem da equipa de Miami envolve a criação de uma estrutura de recife em três níveis, com uma camada densa de betão concebida para ser colonizada pelo coral Elkhorn, nativo da Flórida e das Caraíbas, já conhecido por prosperar em ambientes de ondas altas.
A equipa de Miami também desenvolveu um coral elkhorn tolerante ao calor para combater o aumento da temperatura dos oceanos que está a ameaçar as populações de corais em todo o mundo.