Um soldado paraquedista morto em combate, em Angola, em 1963, foi trasladado na semana passada para Portugal e vai ter uma homenagem e cerimónias fúnebres nesta quarta-feira, no culminar da “batalha de uma vida” travada pela sua filha, Ernestina Silva.
Ernestina Silva chegou na segunda-feira dos EUA para poder assistir às cerimónias que se iniciaram nesta quarta-feira, às 09:30 horas, na capela da Força Aérea, em Lisboa, e que vão culminar no cemitério de Lobão da Beira, no concelho de Tondela (distrito de Viseu), de onde António da Conceição Lopes da Silva era natural.
“Queria trazê-lo para Portugal”, disse Ernestina Silva à Lusa, contando como nunca se conformou com o facto de o pai, que não chegou a conhecer, ter ficado “abandonado”, apenas porque a família não teve, na altura, os meios para custear a sua parte (o Estado colocava os restos mortais em Lisboa, mas a família tinha que pagar o transporte até à aldeia e o funeral – explicou).
Marcada pelas narrativas sobre a personalidade do pai, ouvidas no seio da família paterna, com quem viveu em criança, depois de a mãe emigrar para a Alemanha – “fui criada como se visse o meu pai todos os dias” -, Ernestina partiu aos 22 anos para os EUA, já casada e com uma filha, mas continuou “sempre à procura”.
Foi com a Internet e as redes sociais que finalmente descobriu “como morreu e onde foi enterrado” o corpo do pai. A história estava no “álbum” que Isidro Moreira Esteves, sargento paraquedista na reserva, tem vindo a publicar na sua página no Facebook. Um trabalho “solitário” e “incómodo para alguns”, também na “batalha de uma vida”, para que se cumpra o lema dos paraquedistas, de que “ninguém fica para trás”, como o próprio relatou à Lusa.
Foi aí que Ernestina ficou a saber que o pai morreu porque era o primeiro de uma fila alvejada no dia 3 de outubro de 1963 em Úcua, no município do Dande, na província do Bengo, durante a Guerra Colonial.
Isidro Esteves estava “a cinco metros dele” e tem na sua posse documentos que atestam as circunstâncias da morte de António Silva em combate.
Foi a sua persistência em “não abandonar os que ficaram” que o levou a pedir a um amigo, em 2012, que fotografasse o talhão militar do cemitério de Santana, situado na estrada do Catete, em Luanda, onde estão “centenas de soldados portugueses”, na tentativa de descobrir se havia paraquedistas entre eles.
Entre as cinco campas que exibiam o ‘brevet‘ das tropas paraquedistas estava a de António Silva, narrou Isidro Esteves à Lusa. Foi quando se deparou com essa foto que Ernestina Silva acreditou que poderia “descobrir a verdade”.
“Telefonei nesse mesmo dia. Chorei muito“, disse Ernestina à Lusa, relatando como, a partir daí, reforçou contactos com antigos paraquedistas, de quem se tornou amiga através do Facebook, e que, tal como Isidro Esteves, se revelaram “incansáveis”.
Foi através de uma agência funerária internacional, e das diligências e do apoio dos paraquedistas – que angariaram dois terços da verba necessária para a exumação e trasladação -, que Ernestina Silva viu concretizar-se um processo iniciado formalmente há cerca de um ano.
Hoje à noite vai ter, sozinha, uns momentos junto à urna do pai, na capela da Força Aérea, em Lisboa, onde nesta quarta-feira de manhã se realizou uma missa, antes da partida para Tancos. Aí será feita uma homenagem “bonita” promovida pelos paraquedistas, seguindo depois para o cemitério de Lobão da Beira, percurso que Isidro Esteves faz questão de acompanhar passo a passo.
ZAP // Lusa
Que vergonha! E chamam a isto pátria! Morre-se pela pátria e só 54 anos depois é que regressa à sua pátria!! Existem pessoas que deveriam ter vergonha na cara e não têm! Mas não é tudo! Existem muitos mais lá enterrados e esquecidos, como nas outras ex-colónias, cemitérios cobertos de capim! Tenham vergonha! Mas era eu que ia para a guerra defender o que?! Defender os que não têm vergonha?!?
(o Estado colocava os restos mortais em Lisboa, mas a família tinha que pagar o transporte até à aldeia e o funeral
Também houve situações em que o que cá chegava não eram restos mortais de ninguém, mas outra coisa qualquer com peso equivalente ao de um corpo.
Há sepulturas nos cemitérios de Portugal que nunca tiveram os restos mortais de quem, sobre elas, está identificado por lápide.
Até nisso os portugueses foram enganados.