Papa tem vergonha dos pecados da Igreja. Vigília inédita com testemunhos de vítimas

1

Carlos M. Almeida / Lusa

“Pedimos perdão por todos os nossos pecados. Pedimos perdão, sentindo vergonha, àqueles que foram feridos pelos nossos pecados”.

O papa Francisco pediu perdão àqueles que foram feridos por todos os pecados da Igreja e manifestou a sua vergonha por isso, numa cerimónia na Basílica de São Pedro.

Pedimos perdão por todos os nossos pecados (…) Pedimos perdão, sentindo vergonha, àqueles que foram feridos pelos nossos pecados”, frisou o sumo pontífice, numa ‘vigília penitencial’ sem precedentes antes do Sínodo, a assembleia dos bispos que começa na quarta-feira para abordar as questões mais importantes para a Igreja.

Francisco quis escrever pessoalmente “os pedidos de perdão lidos por alguns cardeais porque era necessário chamar pelo nome os principais pecados”, como “a falta de coragem para lutar contra a paz”, a conversão do mundo “de oásis a um deserto” e pecados contra os povos indígenas, os migrantes e as mulheres, entre outros.

“Como poderíamos ser credíveis (…) se não reconhecemos os nossos erros e estamos inclinados a curar as feridas que causamos com os nossos pecados? A cura começa pela confissão do pecado que cometemos”, salientou.

A cerimónia contou ainda com o testemunho de três vítimas destes pecados: um barítono sul-africano que sofreu abusos sexuais por parte de um membro do clero católico, uma freira originária da Síria que sofreu os horrores da guerra e um migrante da Costa do Marfim que sobreviveu à violência das rotas migratórias.

Entre os cardeais que leram os pedidos de perdão, destacou-se Seán Patrick O’Malley, chefe da comissão do Vaticano que combate os abusos sexuais de menores na Igreja Católica.

“Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por todas as vezes que nós, fiéis, fomos cúmplices e cometemos diretamente abusos de consciência, abusos de poder e abusos sexuais”, apontou, antes de mostrar “vergonha e dor ao pensar especialmente nos abusos sexuais contra menores e pessoas vulneráveis“, que são “fracos e indefesos”, e cuja “inocência foi roubada“.

O’Malley manifestou desculpas aos religiosos que se aproveitaram da sua posição: “Usamos a condição do ministério ordenado e da vida consagrada para cometer este terrível pecado, sentindo-nos seguros e protegidos e aproveitando-nos diabolicamente dos pequenos e pobre”.

Outros cardeais, entre os quais o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, o argentino Víctor Manuel Fernández, intervieram para pedir perdão por outros pecados, entre eles “contra a paz, contra as populações indígenas, contra os imigrantes, contra as mulheres, a família e os jovens”.

“Peço perdão, sentindo-me envergonhado por todas as vezes em que demos justificações doutrinárias para tratamentos desumanos”, destacou Fernández, enquanto Francisco observava.

Por sua vez, o cardeal Michael Czerny pediu desculpa por nem sempre reconhecer “o direito e a dignidade de cada pessoa humana, discriminando-a e explorando-a”, e “particularmente dos povos indígenas”, bem como por “quando fomos cúmplices de sistemas que favoreceu a escravatura e o colonialismo”.

Para Francisco, “a confissão é uma oportunidade para restaurar a confiança na Igreja, a confiança quebrada pelos erros e pecados”, exclamou, exortando “a começar a curar as feridas que não param de sangrar”.

// Lusa

Siga o ZAP no Whatsapp

1 Comment

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.