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O Papa Francisco morreu a 21 de abril de 2025, com 88 anos de idade.
Favorito de Francisco, regresso do conservadorismo de Bento XVI, primeiro Papa negro ou até um português: eis os prováveis sucessores do Papa que queria uma Igreja “para todos”.
No dia a seguir ao domingo de Páscoa, o mundo acordou com a notícia da morte do Papa Francisco, aos 88 anos.
O sumo pontífice, que lutava contra uma série de problemas de saúde nos seus últimos tempos — incluindo uma recente pneumonia dupla que o hospitalizou —faleceu na sua residência no Vaticano, a Casa de Santa Marta, horas depois de ter aparecido, frágil e durante apenas um minuto e meio, na missa da manhã de Páscoa.
É entre regras rígidas e absoluto segredo que o Conclave começa a escolher um novo Papa, previsto para daqui a um mês. Será eleito entre os 138 membros do Colégio Cardinalício com menos de 80 anos — uma lista com quatro portugueses, um deles um forte candidato à sucessão de Francisco.
Mas antes de olharmos para o processo do Conclave para a escolha do novo Papa: afinal, quem são os nomes mais falados para ser o próximo líder da Igreja Católica?
Pietro Parolin, 70 anos (Itália)
O Cardeal Pietro Parolin, de 70 anos, é visto como um forte candidato. Secretário de Estado do Vaticano desde 2013, Parolin ocupa atualmente um dos cargos mais elevados da Igreja.
Natural de Veneto, Itália, é visto como um moderado pragmático e não como uma figura com inclinações ideológicas claramente definidas. É escolha segura para quem defende continuidade.
É conhecido pela sua abordagem diplomática a questões geopolíticas, incluindo negociações com a China e Médio Oriente, tendo recentemente defendido esforços de paz equilibrados numa entrevista ao jornal italiano L’Eco di Bergamo: “todos podem contribuir para a paz, mas as soluções nunca devem ser procuradas através de imposições unilaterais que se arriscam a espezinhar os direitos de povos inteiros, caso contrário, nunca haverá uma paz justa e duradoura”.
Peter Erdö, 72 anos (Hungria)
Outro possível candidato muitas vezes mencionado é o Cardeal Peter Erdö, de 72 anos, Arcebispo de Esztergom-Budapeste, na Hungria. Forte defensor dos ensinamentos e doutrina católicos tradicionais, é um tradicionalista, conhecido pelas suas posições firmes sobre a doutrina da Igreja.
Erdö opõe-se a que os católicos divorciados ou que voltaram a casar recebam a Sagrada Comunhão, invocando a indissolubilidade do matrimónio, e também gerou polémica com comentários anteriores em que comparou o acolhimento de refugiados ao tráfico de seres humanos.
Os pontos de vista conservadores do também ex-presidente do Conselho das Conferências Episcopais Europeias podem agradar aos cardeais que procuram um sucessor doutrinariamente firme para Francisco — uma espécie de regresso ao conservadorismo de João Paulo II e Bento XVI.
Luis Antonio Tagle, 67 anos (Filipinas)
Shoot First, Eat Later/Flickr

O cardeal Luis Antonio Tagle, antigo arcebispo de Manila e atual prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, é outro nome muito presente nas discussões da sucessão.
Defensor da inclusão, conhecido pela sua profunda ligação ao Sul global e pela sua reputação de humildade, Tagle será um dos favoritos do Papa Francisco. A sua inclusão em cargos-chave no Vaticano sugere que o filipino tem um forte apoio no seio da atual hierarquia da Igreja.
Matteo Zuppi, 69 anos (Itália)
O Cardeal Matteo Zuppi, de 69 anos e atualmente presidente da Conferência Episcopal de Itália, tem estado ativo no cenário internacional.
Recentemente, viajou em missões de paz para a Ucrânia e para os Estados Unidos, tendo sido avistado com líderes políticos, incluindo o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o Presidente norte-americano Joe Biden.
É conhecido pela sua abordagem inclusiva: manifestou o seu apoio ao diálogo com a comunidade LGBTQ, escrevendo positivamente sobre o assunto no livro “Building a Bridge” de James Martin.
Raymond Leo Burke, 76 anos (EUA)
O Cardeal Raymond Leo Burke, 76 anos, é uma figura polarizadora.
Nascido em Wisconsin, EUA, e elevado a cardeal pelo Papa Bento XVI em 2010, é considerado um tradicionalista crítico do Papa Francisco.
O norte-americano tem criticado frequentemente as reformas progressistas de Francisco, incluindo a suavização do tom da Igreja em temas como a contraceção, as uniões civis e as relações entre pessoas do mesmo sexo. Também tem defendido que os políticos católicos que apoiam o direito ao aborto devem ser privados da comunhão.
Peter Turkson, 76 anos (Gana)
Uma das principais vozes da justiça social, o ganês Peter Turkson tem vindo a abordar questões como as alterações climáticas, a pobreza e a desigualdade económica. Pertence à ala mais liberal da Igreja.
Antigo diretor do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, a sua eleição seria histórica: seria o primeiro Papa africano em mais de 1500 anos (o último foi o Papa Gelásio I, que reinou no século V).
E poderia ser o primeiro Papa negro — não havendo atualmente certezas sobre se já houve algum.
Angelo Scola, 82 anos (Itália)
Apesar da sua idade avançada, Scola tem uma profunda formação teológica e um apelo tradicionalista.
Foi considerado um sério candidato durante o conclave de 2013. Conhecido por defender uma estrutura mais hierárquica da Igreja, Scola é outro eventual candidato que poderia representar um regresso às prioridades pré-Francisco.
Mario Grech, 68 anos (Malta)
Como Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Grech tem-se mantido na linha entre a retórica progressista e os valores tradicionais.
Sugeriu que a Igreja precisa de adotar um novo tom ao abordar questões sensíveis como a homossexualidade e o divórcio, embora não seja visto como um reformista radical.
Robert Sarah, 79 anos (Guiné)
Conservador convicto, Sarah tem-se pronunciado contra a ideologia de género e contra o fundamentalismo islâmico.
Desempenhou funções de alto nível no Vaticano desde a era de João Paulo II.
Fridolin Ambongo Besungu, 65 anos (RD Congo)
Wikimedia Commons

O Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, 65 anos, é outro nome africano com potencial para suceder a Francisco.
Como presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar, liderou a rejeição da recente iniciativa do Papa Francisco que permitia a bênção de casais do mesmo sexo.
Frade capuchinho, é visto como uma forte voz tradicionalista com um firme apoio africano.
José Tolentino de Mendonça, 59 anos (Portugal)
Arlindo Homem / Agência Ecclesia

José Tolentino Mendonça
Não podemos deixar de fora o Cardeal português José Tolentino de Mendonça, o candidato jovem que surge entre os 22 papáveis para sucessor do Papa Francisco na liderança da Igreja Católica.
O também poeta é visto como uma voz modernista no seio da Igreja Católica, ala onde se tem afirmado como importante figura.
A sua influência aumentou ainda mais em 2022, quando o Papa Francisco o nomeou prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação.
Esta segunda-feira, dia da morte do Papa Francisco, o cardeal Américo Aguiar afastou rapidamente o assunto à conversa com Cristina Ferreira, na TVI: “acho que hoje não é o assunto mais importante”, respondeu quando questionado sobre a possibilidade da eleição de um Papa português.
Sumo secretismo para escolher sumo pontífice
A eleição no Conclave (do latim ‘cum clavis’ ou fechado à chave) está definida até aos mais ínfimos pormenores na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, revista por João Paulo II em 1996, e é secreta.
O sistema de fechar os cardeais iniciou-se no Concílio Lyon II (1274), convocado pelo Papa Gregório X, e hoje os também designados “príncipes da Igreja” estão proibidos de trocar cartas, mensagens ou telefonar a alguém do exterior, assim como de ler jornais, ouvir rádio ou ver televisão enquanto durar a reunião, para evitar pressões.
A obrigação de manter segredo estende-se a todos os funcionários do Vaticano que servem os cardeais neste período ou que têm acesso aos locais em que se encontram e quem violar as regras será castigado, podendo mesmo ser expulso da Igreja Católica.
“Todos fora”: a missa para a eleição
A assembleia dos cardeais eleitores é precedida da missa “Pro eligendo Pontifice” (para a eleição do Pontífice), na qual os cardeais pedem apoio espiritual na escolha do novo Papa. Na tarde desse dia, os prelados dirigem-se em procissão solene para a Capela Sistina, onde decorre a reunião, invocando com o cântico “Veni Creator Spiritus” (Vem Espírito Criador) a assistência do Espírito Santo.
No local do escrutínio, um por um e numa sequência predeterminada, juram com a mão direita sobre a Bíblia manter segredo sobre as discussões relativas à eleição, antes de se sentarem nos lugares que ocuparão durante o Conclave.
Os cardeais terão ainda de ouvir um discurso sobre a escolha que vão fazer e esperar que o eclesiástico que o fez e o Mestre das Celebrações Pontifícias abandonem a sala à ordem deste “Extra omnes” (Todos fora, os que não participam no escrutínio).
As portas da sala são fechadas, ficando sob a proteção da Guarda Suíça, o exército do Vaticano, e os cardeais podem então a sós dar início à eleição.
Defininfo o perfil do novo “pastor de almas”
Antes da realização do Conclave, todos os elementos do Colégio Cardinalício, atualmente 252, terão discutido o estado da Igreja e definido o perfil do novo Papa, que deverá ser um bom “pastor de almas”, teólogo e diplomata, além de falar várias línguas, em primeiro lugar o italiano, a língua oficial do Vaticano.
Os cardeais não podem declarar-se candidatos, só podendo ser considerados como tal pelos seus pares durante a eleição, e também não lhes é permitido chegarem a acordos ou fazerem promessas, absterem-se ou votarem em si mesmos.
Para que seja eleito o novo Papa é precisa uma maioria de dois terços, estando prevista a realização de duas votações de manhã e duas à tarde, após cada duas delas os boletins de voto são destruídos num fogão instalado na Capela Sistina e a cor do fumo da queima indica o resultado, preto se o escrutínio continuar, branco se tiver sido escolhido o novo líder dos católicos.
Caso ninguém tenha sido eleito nos primeiros três dias do Conclave está previsto um dia de reflexão, que terá de ser seguido de sete outras votações inconclusivas antes de passar a ser necessária apenas uma maioria absoluta.
ZAP // Lusa
Eu não sou que eu aborrece-me ter de ler a Bíblia…
Vai-te, esposa do Américo Tomás!