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Papa Leão XIV é matemático – e isso pode ajudá-lo a lidar com o infinito

Fabio Frustaci / EPA

O Cardeal norte-americano Robert Prevost é o novo Papa Leão XIV

Há raízes matemáticas, além de teológicas, por detrás de Robert Francis Prevost. A importância de Georg Cantor, a matemática espiritual.

E eis que a nomeação do novo Papa recuperou uma ligação profunda entre a matemática e a teologia.

O Papa Leão XIV foi matemático. Escolheu o seu nome papal em homenagem ao Papa Leão XIII. Mas essa escolha pode refletir mais do que simples admiração histórica: pode sugerir uma valorização partilhada de uma das ideias mais poderosas e paradoxais em ambos os domínios – o infinito.

Apesar de serem seres finitos, com vidas e capacidades cognitivas limitadas, os humanos há muito que se debatem com o conceito de infinito.

Esta ideia abstrata manifesta-se na religião — onde Deus é frequentemente descrito como um ser infinito — e na matemática, onde o infinito sustenta inúmeros conceitos, desde a sequência interminável dos números primos até às formas geométricas ilimitadas.

Historicamente, lembra o The Conversation, os matemáticos aceitaram a noção de coleções infinitas — como o conjunto interminável dos números — mas rejeitaram a ideia de um objeto infinito real.

Esta relutância derivava de paradoxos como o descrito por Galileu, onde o conjunto de todos os números naturais parece ser simultaneamente maior e não maior do que o conjunto dos números pares.

Contradições lógicas como esta levaram muitos pensadores a tratar o infinito como um conceito abstrato, e não como uma entidade matemática concreta.

Georg Cantor

Essa perspetiva mudou radicalmente no final do século XIX com o trabalho revolucionário do matemático alemão Georg Cantor, que introduziu a ideia de números transfinitos: representações matemáticas rigorosas de infinitos reais.

A sua teoria dos conjuntos permitiu aos matemáticos comparar o tamanho de conjuntos infinitos através de correspondência biunívoca, onde cada elemento de um conjunto é emparelhado com exatamente um elemento de outro.

Esta abordagem revelou resultados surpreendentes.

Por exemplo, o conjunto de todos os números naturais tem o mesmo tamanho que o conjunto de todos os números pares.

E mais. Cantor demonstrou que nem todos os infinitos são iguais: o conjunto dos números reais, que inclui expansões decimais infinitas, é maior do que o conjunto dos inteiros.

Isso levou ao desenvolvimento de uma hierarquia de infinitos, representada por símbolos como Álefe (ℵ), a primeira letra do alfabeto hebraico — um símbolo com ressonância mística e teológica.

Para Cantor, a matemática e a teologia estavam profundamente ligadas. Cristão luterano devoto, acreditava que o conceito de números transfinitos lhe tinha sido inspirado por Deus e correspondia à grandeza da natureza divina.

Procurou o diálogo com teólogos católicos, insistindo que a sua teoria do infinito não ameaçava a unicidade de Deus como infinito absoluto.

Pelo contrário, Cantor via as suas descobertas como uma espécie de matemática espiritual — um “caminho até ao trono de Deus”.

As reflexões do alemão culminaram numa troca de correspondência com o Papa Leão XIII, uma figura progressista que incentivou o diálogo entre a ciência e a religião.

Leão XIII apoiou os esforços para reconciliar os avanços científicos modernos com a doutrina católica, criando um precedente histórico que poderá ter influenciado o Papa Leão XIV.

Ao escolher o nome Leão XIV, o atual pontífice poderá estar a sinalizar uma continuação desse legado — uma união entre o rigor intelectual e a exploração espiritual.

Ao fazê-lo, honra não só um antecessor, mas também reconhece a curiosidade pelo infinito. Que move a matemática e… a fé.

ZAP //

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