A pandemia de covid-19 está a afetar os sonhos e as mulheres tendem a ser mais afetadas do que os homens, sugere uma nova investigação levada a cabo por investigadores da Universidade Médica de Harvard, nos Estados Unidos.
“Estudei outros sonhos em períodos de crise: os norte-americanos depois do 11 de setembro, os kuwaitianos após a ocupação iraquiana e sonhos de ocupantes de um campo de prisioneiros de guerra nazi”, começou por explicar Deirdre Barrett, professora assistente da Harvard Medical School, em declarações ao PsyPost.
“Então, assim que a pandemia começou, fiquei interessada em ver como é que os sonhos neste período seriam semelhantes a outras crises e quaisquer outros elementos distintivos que possam ter”, continuou.
Para chegar a eventuais pontos de contacto ou divergência, a especialista levou a cabo uma investigação online entre 23 de março e 15 de julho, pedindo aos voluntários que descrevessem os seus sonhos durante a pandemia, conta o IFL Science.
Ao todo, recolheu mais de 9.000 experiências, que variam desde sonhos comuns (“Olhei para a minha barriga e vi riscas azuis. E ‘lembrei-me’ que esses eram os sintomas iniciais da covid-1”) até aos mais bizarros (“Era um anticorpo gigante”).
Os sonhos no período de pandemia foram analisados segundo várias categorias – emoções positivas, emoções negativas, raiva, ansiedade, tristeza, relacionadas com o corpo, saúde ou morte -, sendo depois comparados com sonhos recolhidos antes da pandemia.
Barrett encontrou padrões nos sonhos analisados, encontrando grandes diferenças entre os sonhos pré e pós-pandemia. “Existem metáforas muito distintas para a covid-19 (…) Sonhos de ataques de insetos e de monstros invisíveis. Isto reflete que esta crise é menos visível ou concreta do que outras que enfrentamos”, escreveu no seu novo livro Pandemic Dreams, citado pelo mesmo portal de Ciência.
Mulheres mais afetadas
O stress associado à pandemia de covid-19 gerou, como era de esperar, mais emoções negativas associadas aos sonhos durante este período de crise, para homens e mulheres. No entanto, a diferença entre os sonhos pré e pós pandemia mostrou-se mais pronunciada entre os voluntários do sexo feminino.
Além de passarem por experiências com menores sentimentos positivos, as mulheres sentiram também muito mais ansiedade, tristeza, raiva e sonhos relacionados com a saúde e a morte, quando comparadas com o período pré-pandemia.
A pandemia parece ter afetado menos os sonhos dos homens, embora estes mostrem também níveis ligeiramente mais altos de ansiedade, emoções negativas e sonhos que envolvem mais mortes do que nos seus sonhos pré-pandémicos.
Barrett reconhece que existem limitações no seu estudo, que se concentra nas diferenças de género e não inclui uma análise de dados internacionais por país, nem por período de tempo. Ainda assim, pretende continuar a estudar este assunto.
“Nos últimos três meses, os sonhos progrediram de representações assustadoras da nova e misteriosa ameaça à impaciência com as restrições, e a mais medo, consoante o mundo começa a voltar a reabir”, escreveu a especialista no seu livro, publicado em junho.
“E os sonhos começaram apenas a considerar o quadro geral: como é que a sociedade pode mudar”, escreveu na mesma publicação.
Os resultados da investigação foram recentemente publicados na revista Dreaming.