O Governo francês quer passar a cobrar pela entrada na famosa catedral de Notre Dame, mas a Igreja Católica opõe-se à ideia.
Semanas antes da sua tão aguardada reabertura, a Catedral de Notre Dame de Paris está no centro de um debate polémico em França.
A ministra da Cultura francesa, Rachida Dati, propôs a cobrança de uma taxa de 5 euros aos turistas que visitem o emblemático monumento para financiar a preservação do património religioso do país, que se encontra em deterioração e inclui milhares de igrejas que necessitam urgentemente de reparações. No entanto, a proposta está a ser muito contestada pela Igreja Católica.
Notre Dame, muitas vezes referida como “a alma de França”, foi gravemente danificada por um incêndio em abril de 2019, destruindo grande parte do seu telhado e pináculo. A sua reabertura está prevista para 8 de dezembro, após um projeto de restauro de cinco anos. Anteriormente, a catedral atraía 12 a 14 milhões de visitantes por ano, o que a tornava um dos marcos culturais mais visitados do mundo.
Dati argumentou que, noutros países europeus, os turistas pagam habitualmente para visitar catedrais famosas, como o Duomo de Milão, a Sagrada Família de Barcelona e a Abadia de Westminster no Reino Unido. A cobrança de uma taxa aos visitantes de Notre Dame poderia permitir angariar até 75 milhões de euros por ano, que poderiam ser utilizados para ajudar a restaurar outras igrejas em ruínas em França. “Notre Dame poderia salvar todas as igrejas de França”, afirmou.
No entanto, a proposta suscitou forte oposição da Igreja Católica francesa, que insiste que as igrejas devem permanecer abertas a todos, gratuitamente. A diocese de Notre Dame emitiu um comunicado sublinhando que as igrejas devem ser acessíveis a todos, independentemente dos seus recursos económicos, e as dificuldades práticas de distinguir entre turistas e fiéis que procuram uma oração privada.
Para além disso, a proposta pode enfrentar desafios legais. De acordo com a lei francesa de 1905 sobre o laicismo, que separa a Igreja do Estado, os edifícios religiosos pertencem ao Estado e as visitas não podem ser sujeitas a uma taxa. Embora Notre Dame cobrasse pelo acesso a áreas específicas, como a torre do sino, antes do incêndio, a lei proíbe a cobrança de entradas gerais na catedral.
Apesar destes obstáculos, os defensores da taxa argumentam que as receitas poderiam contribuir significativamente para a preservação do património religioso francês. A Fondation du Patrimoine, uma instituição de caridade para o património nacional, também alertou para o facto de muitas das igrejas francesas se encontrarem em estado crítico, com cerca de 5000 em risco de encerramento devido à sua degradação, explica o The Guardian.
Alguns propuseram soluções alternativas, como um donativo voluntário à entrada da catedral. Ariel Weil, presidente da Câmara Municipal do centro de Paris, sugeriu que os visitantes pudessem ser encorajados a contribuir sem serem obrigados a pagar.
Muito bem. Se a Igreja se opõe, que seja ela a evitar a decadência e a custear o restauro dos templos que dele carecem.
Em muitas Igrejas de Portugal já se passa o mesmo, é incompreensível a cobrança de entrada num espaço que se quer de acolhimento e reflexão, transformando-o desse modo em “mera” atração turística
Qu se cobre para aceder a espaços museológicos ou de exposição anexos à igrejas tudo bem, aos templos propriamente ditos, tudo mal.