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Ossos de criança enterrados há 40.000 anos resolvem antigo mistério Neandertal

Emmanuel Roudier

Uma criança, que viveu há cerca de 41 mil anos, foi encontrada num famoso sítio arqueológico no sudoeste de França, chamado La Ferrassie, e resolveu um antigo mistério Neandertal.

Os restos mortais de vários Neandertais já tinham sido encontrados no famoso sítio arqueológico La Ferrassie, em França. De acordo com o ScienceAlert, a descoberta mais recente é uma criança conhecida apenas como La Ferrassie 8.

Quando os vestígios antigos foram encontrados pela primeira vez – a maioria no século XX -, os arqueólogos presumiram que os esqueletos representavam sepulturas intencionais, tendo os neandertais enterrado os seus parentes falecidos.

No entanto, na arqueologia contemporânea, as dúvidas giram agora em torno da questão de saber se os neandertais realmente enterraram os seus mortos assim ou se este aspecto particular dos ritos funerários é um costume exclusivo do Homo sapiens.

Com esse mistério em mente, uma equipa liderada por investigadores do Le Centre national de la recherche scientifique (CNRS) e do Muséum national d’histoire naturelle, em França, realizou uma reavaliação completa dos vestígios antigos de La Ferrassie 8, que já foram mantidos no museu durante quase 50 anos após serem descobertos entre 1970 e 1973.

No novo trabalho, os investigadores analisaram os cadernos e diários de campo usados pela equipa de escavação original e os ossos de La Ferrassie 8. Os arqueólogos também realizaram novas escavações e análises no local do abrigo da caverna La Ferrassie, onde os restos mortais da criança foram encontrados.

Os resultados da sua abordagem multidisciplinar sugerem que – apesar da natureza inferior da investigação anterior sobre o suposto enterro de La Ferrassie 8, as antigas conclusões estavam corretas: a criança foi enterrada.

“Os dados antropológicos, espaciais, geocronológicos, tafonómicos e biomoleculares combinados aqui analisados sugerem que um sepultamento é a explicação mais parcimoniosa para LF8”, explicam os autores. “os nossos resultados mostram que o LF8 é intrusivo numa camada sedimentar mais velha (e arqueologicamente estéril). Propomos que os neandertais cavaram intencionalmente um fosso em sedimentos estéreis onde a criança LF8 foi depositada.”

Ao chegar a esta conclusão, a equipa confirmou que os ossos bem preservados foram repousados na sua posição anatómica, com a cabeça mais alta do que o resto do corpo, embora a configuração do terreno fosse inclinada num ângulo diferente – sugerindo uma elevação inventada por mãos de Neandertal.

Além disso, não havia marcas de animais, o que a equipa considera ser outro sinal provável de um enterro imediato e intencional. “A ausência de marcas carnívoras, o baixo grau de perturbação espacial, fragmentação e intemperismo sugerem que foram rapidamente cobertos por sedimentos”, explicam os investigadores.

“Não encontramos nenhum processo natural (ou seja, não antrópico) que explique a presença da criança e de elementos associados dentro de uma camada estéril com uma inclinação que não segue a inclinação geológica do estrato. Neste caso, propomos que o corpo da criança LF8 foi colocado numa cova cavada em sedimento estéril”.

Este não é o primeiro estudo que reivindica novas evidências de que os Neandertais enterravam os seus mortos. A equipa defende que é hora de os novos e aprimorados padrões analíticos de hoje serem aplicados nos vários restos do esqueleto de La Ferrassie 1 a 7, dando-nos uma avaliação atualizada de como foram enterrados.

Este estudo foi publicado em dezembro na revista científica Scientific Reports.

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