Os oceanos estão a mudar de cor (e a culpa é nossa)

NASA’s Earth Observatory

Um afloramento de fitoplâncton no Mar de Barents

A cor dos oceanos mudou nos últimos 20 anos. Esta mudança, subtil ao olho humano, aconteceu em mais de 56% dos oceanos do mundo – uma área maior do que a superfície terrestre total do nosso planeta.

A alteração na cor dos oceanos significa que os ecossistemas marinhos também podem sofrer transformações. Embora a natureza exata desta mudança ainda não seja clara, os cientistas acreditam que é uma consequência das alterações climáticas induzidas pelo Homem.

“Há anos que faço simulações que me dizem que estas alterações na cor dos oceanos vão acontecer”, disse Stephanie Dutkiewicz, coautora do artigo científico, publicado recentemente na Nature.

“Ver isto a acontecer não é surpreendente, mas assustador. E estas alterações são consistentes com as alterações induzidas pelo Homem no nosso clima”, acrescentou, citada pelo ZME Science.

A cor do oceano é determinada pelas camadas superiores, que refletem as substâncias presentes no seu interior. Enquanto que as águas azuis profundas indicam escassez de vida, as águas mais verdes sugerem a presença de organismos fotossintéticos, nomeadamente fitoplâncton.

O fitoplâncton sustenta uma grande variedade de organismos e desempenha um papel muito importante na capacidade do oceano absorver e armazenar dióxido de carbono. É por isso que os cientistas monitorizam regularmente as populações de fitoplâncton à superfície do oceano, analisando a forma como poderão reagir às alterações climáticas.

Para acompanhar as alterações da clorofila, é necessário avaliar o rácio entre a luz azul e verde refletida pela superfície do oceano, através de observações por satélite.

No entanto, em 2010, um estudo alertou para o facto de que, se os cientistas se limitassem a analisar a clorofila, seriam necessários pelo menos 30 anos para detetar qualquer alteração resultante das alterações climáticas.

Neste novo estudo, os investigadores analisaram as medições da cor dos oceanos realizadas pelo Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS), um instrumento do satélite Aqua que capta diferenças de cor impercetíveis ao olho humano.

Realizaram, então, uma análise estatística utilizando em conjunto as sete cores do oceano medidas pelo satélite entre 2002 e 2022. Num primeiro momento, analisaram a variação das cores de região para região durante um determinado ano para inferir informações sobre as flutuações naturais.

Depois, alargaram o método a um período mais alargado de duas décadas. Esta análise revelou uma tendência clara que não podia ser explicada pela variabilidade típica anual.

Foi então que os cientistas usaram um modelo climático para verificar se existia uma ligação entre a tendência observada e as alterações climáticas. Simularam os oceanos em dois cenários diferentes: um com a adição de gases com efeito de estufa e outro sem.

O primeiro cenário previa alterações na cor dos oceanos em cerca de 56% dos oceanos do mundo, em conformidade com o que a equipa descobriu.

“Isto sugere que as tendências que observamos não são uma variação aleatória no sistema terrestre”, destacou B.B. Cael, principal autor do estudo. “As conclusões são consistentes com as alterações climáticas antropogénicas.”

ZAP //

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