Os monstros marinhos são nossos primos

Os seres humanos têm notáveis semelhanças com as lampreias-do-mar, vertebrados sem mandíbula que remontam a 500 milhões de anos, verificou um novo estudo que investiga o percurso evolutivo do rombencéfalo.

Conhecida pela sua inquietante boca de sucção dentada, a lampreia-marinha apresenta esquemas genéticos comuns que ditam o seu desenvolvimento nos vertebrados, incluindo os humanos, verificaram os investigadores do Instituto Stowers em estudo publicado em fevereiro na revista Nature Communications.

Sem mandíbulas — caraterística prevalecente na maioria dos vertebrados — estes animais divergiram nos vertebrados com mandíbulas há 500 milhões de anos.

“Houve uma divisão na origem dos vertebrados entre os sem mandíbula e os com mandíbula há cerca de 500 milhões de anos”, disse Alice Bedois, autora principal do estudo.

“Queríamos entender como o cérebro dos vertebrados evoluiu e se havia algo único nos vertebrados com mandíbulas que faltava nos seus parentes sem mandíbulas”, acrescenta.

Anteriormente, a investigação do laboratório de Robb Krumlauf em colaboração com Marianne Bronner, investigadora do Instituto de Tecnologia da Califórnia, demonstrou que os genes que estruturam o cérebro posterior da lampreia do mar são idênticos aos dos vertebrados com mandíbula, como os humanos.

No entanto, estes genes fazem parte de uma rede complexa que requer pistas específicas para a formação correta do rombencéfalo.

“Este estudo sobre o rombencéfalo é essencialmente uma janela para o passado distante e serve de modelo para compreender a evolução da complexidade”, explica o coautor do estudo, Hugo Parker.

O estudo recente identifica o ácido retinóico, vulgarmente conhecido como vitamina A, como um sinal molecular chave que se pensava ser exclusivo de espécies mais complexas para orientar o desenvolvimento do rombencéfalo.

Surpreendentemente, a investigação revelou que este sinal inicia o processo de desenvolvimento nas lampreias marinhas, apontando para uma ligação evolutiva muito mais profunda entre estas criaturas antigas e os vertebrados modernos.

A descoberta de que tanto os vertebrados simples como os complexos utilizam o ácido retinóico para o desenvolvimento do rombencéfalo sugere que este mecanismo é ancestral a todos os vertebrados.

“Descobrimos que não só os mesmos genes, mas também a mesma pista está envolvida no desenvolvimento do rombencéfalo da lampreia do mar, sugerindo que este processo é ancestral para todos os vertebrados”, explica Bedois.

“As pessoas pensavam que, pelo facto de as lampreias do mar não terem mandíbula, o seu rombencéfalo não se formava como o dos outros vertebrados”, explica por sua vez Robb Krumlauf, em comunicado publicado no EurekAlert. “Mostrámos que esta parte básica do cérebro é construída exatamente da mesma forma que os ratos e até os humanos”.

“Todos nós derivámos de um antepassado comum“, diz Bedois. “As lampreias marinhas forneceram uma pista adicional. Agora precisamos de olhar ainda mais para trás no tempo evolutivo para descobrir quando é que o circuito genético que governa a formação do rombencéfalo evoluiu pela primeira vez.”

ZAP //

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