Os EUA congelaram a ajuda externa — estão a agravar crises humanitárias por todo o mundo

USAID Africa Bureau

Retirada da OMS, encerramento da USAID. É o fim da cooperação internacional de uns EUA virados para dentro. O que fica para trás?

Na primeira semana de mandato de Donald Trump como presidente, os EUA retiraram-se da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que comprometeu a saúde global, uma vez que o país é responsável por diversos estudos e investigações sobre saúde e doenças.

Esta semana, os EUA também anunciaram o fim da USAID (Agência para o Desenvolvimento Internacional), associação que envia ajuda para zonas de desastres humanitários ou necessidades sociais um pouco por todo o mundo.

É o fim de mais de metade de toda ajuda humanitária dos EUA. A distribuição de alimentos está a ser interrompida. Os serviços de saúde estão a ser encerrados. O financiamento para muitos programas foi já suspenso.

“É desolador para os nossos beneficiários, para quem isto é uma questão de vida ou morte”, disse um funcionário da USAID à CNN. Outro fala em “choque absoluto dos nossos parceiros”.

“Temos programas na Ucrânia, temos programas na Birmânia, no Sudão, em alguns dos locais mais complicados e perigosos do mundo, onde as necessidades humanitárias são enormes”, diz o funcionário. “Tudo isso está parado. Tudo.”

“Fazemos um trabalho que pensamos ser realmente importante para o poder e a estabilidade dos Estados Unidos no estrangeiro. Não fazemos este trabalho porque é agradável. Fazemo-lo porque nos permite ganhar muito mais e dá-nos muito mais do que estamos a dar”, acrescenta. “É devastador ver isto a nível pessoal, e penso que é muito imprudente a nível global“.

Em países como a Jordânia ou a República Democrática do Congo, a USAID tem projetos sobre segurança da água. Estima-se que 4 mil milhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a água potável.

Sem esses programas, “os animais morrem, as pessoas morrem, as pessoas são deslocadas”, garante Evan Thomas, professor de engenharia ambiental que trabalha num projeto no Quénia que ajuda mais de 1 milhão de pessoas a ter acesso a água potável, através de 200 bombas de água subterrânea parcialmente financiadas pela USAID.

“Todo o programa está agora em risco de se desmoronar”, e “quando as pessoas não têm água, quando o seu gado morre, ficam muito stressadas e há milícias que estão dispostas a tirar partido desse stress e a recrutar para os seus próprios objetivos”, diz, referindo-se aos grupos terroristas locais.

Prejudicar o acesso das pessoas em todo o mundo a alimentos, água e medicamentos não vai tornar a América mais segura”, afirma. “As pessoas não ficam sentadas e morrem de sede. Elas deslocam-se. Elas migram. Por isso, isto irá criar uma maior pressão migratória em todo o mundo“.

“Muitas pessoas deslocadas e muitas pessoas que são apanhadas pela fome e por outras crises podem ser gravemente prejudicadas, se não mortas por esta retirada de ajuda”, confirma Jeremy Konyndyk, presidente da Refugees International e antigo funcionário da USAID.

“A USAID tem sido uma pedra angular das iniciativas que salvam vidas em regiões atingidas pela fome, como a Etiópia, a Somália e o Sudão, mas o congelamento do financiamento deixa milhões de pessoas sem acesso a serviços essenciais como cuidados de saúde, água potável e abrigo”, diz também Jamie Munn, diretor executivo do Conselho Internacional de Agências Voluntárias.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) para o Afeganistão também é extremamente dependente dos EUA, tendo recebido 45% do seu financiamento deste país.

Tal como a OMS, a USAID também programas para combater problemas de saúde pública, como é o caso da malária.

“Uma das razões pelas quais não temos malária nos EUA é porque financiamos e controlamos a malária em todo o mundo, para segurança sanitária global”, disse outro antigo funcionário. E a malária continua a matar cerca de 600.000 pessoas por ano.

Outra questão que os programas da USAID abordavam era a segurança das mulheres, em especial no Afeganistão, onde o regime talibã lhes retira vários direitos fundamentais. Cerca de 145.000 mulheres afegãs eram protegidas pela USAID, e serão agora deixadas por sua conta.

De acordo com os funcionários da ONU, os EUA financiam cerca de 47% da ajuda humanitária mundial, um valor extremamente significativo, pelo que, como dizem os funcionários da USAID, “todo o sistema humanitário pode entrar em colapso”.

O presidente da Oxfam America, Abby Maxman, resume: “Acabar com a USAID tal como a conhecemos iria anular ganhos duramente conquistados na luta contra a pobreza e a crise humanitária, e causar danos irreparáveis a longo prazo”.

ZAP //

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