// Qian Wang / Texas A&M University College of Dentistry; rinzz / Depositphotos
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Uma equipa de investigadores encontrou no noroeste da China os restos mortais com mais de 2000 anos de uma mulher com os dentes tingidos de vermelho graças à utilização de cinábrio, mineral composto por sulfureto de mercúrio. É o primeiro caso conhecido na história.
Este é o primeiro caso documentado na história em que este material foi utilizado para pigmentar os dentes, o que levou os especialistas a apelidarem a mulher de Princesa Vermelha da Rota da Seda.
A descoberta foi feita no cemitério de Shengjindian, localizado na bacia de Turpan, uma região chave ao longo da Rota da Seda.
A jovem, com idade entre os 20 e os 25 anos, foi sepultada juntamente com outros três indivíduos num túmulo datado do período entre 202 a.C. e 8 d.C., durante a dinastia Han.
O seu esqueleto apresentava vestígios de pigmento vermelho nos dentes, o que chamou imediatamente a atenção dos arqueólogos.
Para determinar a composição do pigmento, os cientistas utilizaram técnicas analíticas avançadas, como a espetroscopia Raman, a fluorescência de raios X e a espetroscopia de infravermelhos com transformada de Fourier (FTIR).
Os resultados confirmaram que o pigmento vermelho nos dentes da mulher era cinábrio, aplicado com um aglutinante à base de proteínas.
Esta descoberta é única na história da arqueologia, uma vez que o cinábrio não tinha sido documentado anteriormente para utilização na coloração de dentes.
O cinábrio é o minério mais comum da refinação de mercúrio elementar e é a fonte histórica do pigmento vermelho brilhante designado vermelhão e dos pigmentos de mercúrio vermelho associados.
“Não sabemos se a tintura era usada para fins estéticos, religiosos ou medicinais, mas esta descoberta abre uma janela para as complexas crenças das antigas civilizações da Rota da Seda”, explica Qian Wang, investigador do Texas A&M University College of Dentistry e autor principal do estudo, citado pela LBV.
Desde os tempos pré-históricos, o vermelho é uma cor rica em simbolismo em várias culturas do mundo. Tem sido associada ao poder, à vida, à morte e à espiritualidade. Na China, o cinábrio era utilizado em decorações, rituais funerários e até na alquimia, pois acreditava-se que tinha propriedades mágicas e medicinais.
Um dos aspetos mais intrigantes da descoberta é a origem do cinábrio. A bacia de Turpan não é rica neste mineral, o que sugere que deve ter sido importado de outras regiões.
Na antiguidade, as principais fontes de cinábrio situavam-se no sudoeste da China, em províncias como Hunan e Sichuan, bem como na Europa, nomeadamente na famosa mina de Almadén, em Espanha.
Embora se tenha determinado que o pigmento vermelho é cinábrio e que foi aplicado com um aglutinante de proteínas, os arqueólogos ainda não sabem o objetivo exato desta prática. Tratava-se de um costume comum na região ou de um caso único? Tinha um significado ritual ou era um sinal de estatuto?
Os autores do estudo, que foi apresentado num artigo recentemente publicado na Archaeological and Anthropological Sciences, propuseram várias hipóteses sobre a razão pela qual a Princesa Vermelha da Rota da Seda tinha os dentes pintados.
Uma delas sugere que a jovem mulher pode ter sido um xamã ou uma figura religiosa de alto estatuto, uma vez que o cinábrio estava ligado a crenças espirituais na região. Também se considera que o pigmento pode ter sido aplicado como sinal de beleza ou distinção social.
Além disso, apesar da sua toxicidade, pensa-se que o cinábrio também era ingerido durante “rituais de cura para aliviar a mente, prolongar a vida e até matar espíritos malignos”, dizem os autores do estudo, citados pelo IFLS.
“Influenciado por crenças xamânicas, o cinábrio poderia ter servido na antiguidade como uma droga psicoactiva devido à sua capacidade de influenciar a consciência e ajudar na comunicação com os deuses, acrescentam os investigadores.
Aparentemente, o caso da jovem Princesa Vermelha da Rota da Seda com dentes tingidos de vermelhão suscita mais perguntas do que respostas.