Os “demónios da velocidade” do Universo são objetos fixes

Viajam a mais de mil quilómetros por segundo: as estrelas mais velozes da Via Láctea.

Fraser Evans, candidato a doutoramento na Universidade de Leiden, realizou uma investigação acerca destas esquivas estrelas hipervelozes e descobriu que têm muito a ensinar-nos, por exemplo, sobre buracos negros e supernovas.

As estrelas hipervelozes (sigla inglesa HVS, “hypervelocity stars”) são estrelas que se movem tão depressa que conseguem escapar à gravidade da Via Láctea.

Em 2019, os astrónomos descobriram uma estrela – S5-HVS1 – que viaja a uns incríveis 1755 km/s. Dúzias destas estrelas foram descobertas desde então. Mas há provavelmente cerca de mil delas na nossa Galáxia.

Evans utilizou simulações de computador para ejetar milhões de falsas estrelas hipervelozes da Via Láctea. Queria compreender melhor de onde vinham e o porquê da sua velocidade.

“Para realizar as simulações de computador adequadas, utilizámos muitos dados do telescópio espacial Gaia, que incrivelmente já mapeou dois mil milhões de estrelas na nossa Via Láctea”, diz Evans numa nota de imprensa da Universidade de Leiden.

James Josephides (Swinburne Astronomy Productions)

Impressão de artista da ejeção de S5-HVS1 por Sagitário A*, o buraco negro no centro da Via Láctea. O buraco negro e a estrela companheira de S5-HVS1 podem ser vistos à esquerda, enquanto S5-HVS1 está no plano da frente, a viajar incrivelmente depressa.

Os resultados da sua investigação vão facilitar a procura por estrelas hipervelozes no futuro. Mas porque é que é tão importante que os astrónomos descubram mais sobre estes “demónios da velocidade”?

“Podemos assumir com bastante certeza que algumas das estrelas hipervelozes que já foram descobertas foram ejetadas após um encontro gravitacional com o enorme buraco negro no centro da Via Láctea: Sagitário A*. Vemos um efeito semelhante na Grande Nuvem de Magalhães, outra galáxia que temos razões para pensar que também contém um buraco negro”, explica.

Nas condições certas, as supernovas – a explosão de estrelas – também podem ejetar estrelas hipervelozes.

“As estrelas que explodem como supernovas são incrivelmente raras na nossa Via Láctea e o evento é tão breve que é difícil de medir. Além disso, há tantas estrelas e tanta poeira a voar à volta de Sagitário A* que não conseguimos ver devidamente o que se passa ali”, explica Evans.

“Algumas estrelas hipervelozes estão em partes mais visíveis do espaço e podem dizer-nos mais sobre a sua origem. Por exemplo, sobre a gravidade dos buracos negros ou a quantidade de energia que uma supernova produz”.

Embora Evans, em criança, não tivesse nenhuma ambição particular em se tornar astrónomo, os seus estudos e investigações deixaram-no fascinado pelas estrelas hipervelozes. “São objetos tão ‘fixes’“, diz o astrónomo.

Mil quilómetros por segundo é uma velocidade extremamente elevada. Dávamos a volta ao mundo em menos de um minuto. Têm também uma história para contar sobre processos no Universo sobre os quais sabemos pouco e ainda temos muito por descobrir”, conclui Evans.

// CCVAlg

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