Os concursos de sósias estão na moda — e há uma ciência por trás de duas pessoas idênticas

Anthony Po / X

Os melhores sósias de Timothée Chalamet

Começou com Timothée Chalamet, e agora já muitos famosos têm dezenas de sósias. Especialistas explicam que, na verdade, as semelhanças têm fundamento: os “gémeos” desconhecidos partilham partes da sua composição genética.

Teve lugar no mês passado nos Estados Unidos uma competição peculiar para selecionar o melhor “duplo” do protagonista de “Dune”, Timothée Chalamet.

Agora, a moda popularizou-se, e já se viram “sósias” de outras personalidades famosas, como Harry Styles, Jeremy Allen White ou Paul Mescal. O vencedor do concurso (ou seja, o mais parecido), ganha cerca de 50 euros.

Mas, afinal, essas pessoas têm mesmo qualquer coisa em comum — qualquer coisa que tem vindo a ser cientificamente estudada desde há alguns anos.

Em 1999, o fotógrafo Fraçois Brunelle lançou uma série chamada “Não sou um sósia!”, onde exibia pessoas que não se conheciam, mas que eram idênticas (“gémeos estranhos”, como lhes chamou). Mais tarde, foi contactado pelo cientista Manel Esteller, um geneticista molecular do Instituto de Investigação da Leucemia de Carreras, em Espanha.

Esteller levou, então, a cabo um estudo, no qual submeteu essas pessoas a “três algoritmos faciais, os mesmos utilizados pela polícia e nos aeroportos”, conta o cientista à National Geographic.

As descobertas foram publicadas em 2022, e são surpreendentes — mas, para os cientistas, nem por isso.

É sabido que as sequências genéticas que controlam caraterísticas como a estrutura óssea, a pigmentação da pele e a retenção de água afetam a aparência do rosto humano.

No genoma humano, estas sequências incluem sítios polimórficos, em que um único par de bases de ADN apresenta diferentes variantes na população — e os sósias partilhavam as mesmas variações, explica a National Geographic.

Quer isto, então, dizer que estas pessoas partilham realmente partes distintas da sua composição genética.

“Neste momento, há tantas pessoas no mundo que, eventualmente, se espera que haja pessoas que partilhem um maior número de variantes [genéticas]”, explicou o investigador.

Também Nancy Segal, professora de psicologia na Universidade Estatal da Califórnia, em Fullerton, levou a cabo um estudo para tentar averiguar se, uma vez que estas pessoas apresentam semelhanças na carga genética, podiam também ter semelhanças psicológicas, tendo também pedido colaboração aos sósias fotografados por Brunelle.

Apesar de ter percebido que estes “gémeos estranhos” não são tão semelhantes entre si como os gémeos realmente ditos, existem características partilhadas muitas vezes por pessoas semelhantes.

Esteller afirm, por exemplo, que “se um era fumador, o outro era provavelmente fumador” e vice-versa, porque os vícios são, em parte, uma caraterística genética, tal como a miopia e a deficiência visual.

Conclusão: um sósia de Timothée Chalamet pode ter um andar e uma voz semelhantes aos do próprio ator, mas não tem necessariamente o mesmo carisma e talento. Como diz Segal, “muitas dessas pessoas vão ficar desiludidas, porque o facto de se parecerem com alguém não significa que sejam iguais “.

Ainda assim, lembra, os seres humanos tendem a sentir-se atraídos por pessoas mais semelhantes a elas: “Penso que nos diz algo sobre a natureza humana, no sentido em que todos desejamos a semelhança“, diz a investigadora.

Esteller comenta mesmo que ouviu dizer que duas das pessoas estudadas acabaram mesmo por se apaixonar e casar-se. É, portanto, possível que ir a um “concurso de sósias” valha não apenas o prémio monetário, mas também, quem sabe, uma nova amizade.

ZAP //

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