Os ciclones arrasam aves marinhas. Ilsa dizimou 90% de três espécies

O aumento da frequência e da intensidade de ciclones tropicais devido ao aquecimento global pode vir a reduzir drasticamente as populações de aves marinhas.

As aves marinhas são cruciais para a manutenção dos recifes tropicais e a sua perda pode exercer uma maior pressão sobre os ecossistemas.

Segundo o The Guardian, depois do ciclone tropical Ilsa ter atingido a ilha de Bedout, na Austrália Ocidental em 2023, várias populações de aves marinhas sofreram um colapso de 80 a 90% devido à tempestade no seu local de reprodução.

Num novo estudo, publicado esta quinta-feira na Communications Earth & Environment, os cientistas observaram que este nível de perda poderia ser insustentável para as populações de aves marinhas à medida que a regularidade e a intensidade dos ciclones aumentam.

Este aumento deve-se ao aquecimento global, com os ventos fortes, as chuvas intensas e as grandes ondulações a perturbarem os seus ciclos reprodutivos.

“Embora Bedout possa ser uma pequena ilha numa área remota da Austrália, há muito que podemos aprender com o que aconteceu aqui”, salienta a primeira autora do estudo, Jennifer Lavers.

“Perderam-se mais de 20.000 animais num piscar de olhos. Os levantamentos efetuados na ilha durante três meses mostram que a recuperação será lenta e provavelmente interrompida por outro ciclone”, acrescenta a investigadora.

Os investigadores utilizaram levantamentos aéreos e terrestres para estimar a mortalidade de três espécies – o alcatraz-pardo (Sula leucogaster), o rabiforcado-pequeno (Fregata ariel) e uma subespécie endémica do atobá grande (Sula dactylatra bedouti) nos meses que se seguiram à tempestade.

Pelo menos 20.000 aves foram perdidas na ilha com 17 hectares, na sua maioria adultos reprodutores.

Embora seja normal que os ciclones tropicais tenham impactos drásticos nas populações de animais selvagens, incluindo as aves marinhas, prevê-se que se tornem mais frequentes e violentos com o aumento do aquecimento global, perturbando a capacidade de recuperação das populações de aves marinhas.

A mortalidade a que assistimos não tem precedentes. Fizemos a contagem dos corpos e calculámos que quase todos os atobás tinham sido mortos pelo ciclone Ilsa”, diz o principal autor do estudo, Alexander Bond.

A tempestade registou ventos de pelos menos 217 quilómetros por hora antes de atingir a Austrália Ocidental e a ilha de Bedout.

Soraia Ferreira, ZAP //

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