Os cães estão a “substituir” os bebés?

As pessoas que chamam aos seus animais de estimação “bebés de pelo” podem estar mais corretas do que imaginam.

Esta informação é dada num novo estudo, publicado na revista Current Diretions in Psychological Science, que relaciona o aumento das taxas de posse de cães com a diminuição das taxas de natalidade.

“Alguns dizem que os cães são as novas crianças, enquanto outros acham essa ideia ultrajante”, disse Enikő Kubinyi, chefe do Departamento de Etologia da Universidade Eötvös Loránd e único autor do artigo, em comunicado. “O Papa Francisco, por exemplo, considerou egoísta as pessoas sem filhos mimarem os animais de estimação”.

No entanto, parece que essa é a tendência ultimamente, pelo menos superficialmente. “Alguns estudos sugerem que os donos de cães têm, de facto, uma visão mais negativa da maternidade e que as mães que têm cães consideram a parentalidade mais pesada, o que pode reduzir a sua vontade de ter mais filhos”, explicou Kubinyi. “Nalguns casos, os cães podem até prejudicar as relações amorosas“.

“Mas isso é apenas um lado da história“, acrescentou. Segundo Kubinyi, os cães não estão tanto a substituir os membros da família, mas a juntar-se a eles — ou, em alguns casos, até a facilitá-los.

Afinal, ter um cão significa levá-lo a passear. Vá a um parque para cães com o pequeno Bobi ou Fifi e é provável que conheça outras pessoas com, pelo menos, uma coisa em comum consigo.

“As mulheres […] tendem a achar os homens com cães mais atraentes, o que pode aumentar as hipóteses de paternidade”, salientou Kubinyi, enquanto “alguns casais veem o seu animal de estimação como uma ‘criança de treino‘, um passo preparatório para começar uma família”.

De um modo geral, acrescentou, “as famílias com filhos têm mais probabilidades de ter cães” — por isso, talvez estes malandros de quatro patas não sejam o inimigo da vida familiar que parecem inicialmente. Mas, nesse caso, qual é a relação?

“O número de crianças não está a diminuir porque o número de cães está a aumentar”, explica Kubinyi, “mas a mesma tendência está por detrás dos dois fenómenos: a transformação das redes sociais“.

Basicamente, diz o autor do estudo, o problema é o nosso gregarismo humano. Somos extremamente sociais, mas no mundo atual, as nossas comunidades estão cada vez mais fraturadas e as nossas vidas isoladas. Mesmo quando temos famílias, estas tendem a ser, na melhor das hipóteses, unidades nucleares — uma invenção muito moderna, historicamente falando.

“Os seres humanos evoluíram para se envolverem na chamada procriação cooperativa, em que as tarefas de cuidar das crianças eram partilhadas dentro da comunidade”, explicou Kubinyi, “mas nas sociedades modernas, estas redes de apoio foram desmanteladas”.

Segundo o IFL Science, o problema é que queremos ser sociais, queremos ter amigos e família, para ajudar na criação dos filhos e fomentar os laços comunitários. Mas não podemos, então arranjamos um cão.

“O meu conceito, referido como o animal de companhia ou, mais especificamente, a teoria da fuga do cão de companhia, sugere que a popularidade dos cães tem origem em causas evolutivas biológicas, mas que, culturalmente, se intensificou, ‘fugindo'”, afirmou Kubinyi.

“O instinto de prestação de cuidados e a necessidade de apoio social estão geneticamente codificados no comportamento humano, mas estes impulsos deslocaram-se para os animais de companhia porque as relações humanas estão frequentemente danificadas ou ausentes“.

Esta ligação é tão direta que podemos até ter criado seletivamente os nossos cães para se assemelharem mais às crianças humanas. Na verdade, é um problema.

No entanto, é difícil dizer que o facto de mais pessoas terem cães é exatamente um problema — é antes um sintoma de algo muito mais insidioso: o isolamento social generalizado e esmagador.

“A posse de cães é uma coisa maravilhosa quando liga as pessoas em vez de as isolar”, disse Kubinyi.

Mas “precisamos de reforçar os sistemas de apoio social baseados na família”, acrescentou, “e reduzir o isolamento social“.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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