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“A Taylor morreu”. Os anjos de Charli declaram guerra a Swift (e isso é o novo normal)

Jana Zills, Jana Zills / Wikipedia

Taylor Swift, Charli XCX

Na era digital, as legiões de fãs, como as de Taylor Swift e Charli XCX, tornaram-se forças poderosas, entrando frequentemente em conflito umas com as outras devido à perceção de ameaças ao sucesso dos seus ídolos — abrindo mais uma fratura num mundo já polarizado na política, desporto e religião.

A cultura de fãs dos nossos dias, reforçada pela disponibilidade permanente de conetividade e pelas plataformas de redes sociais, contrasta fortemente com o ambiente que se vivia na cena musical no final dos anos 1990.

Na altura, recorda a colunista Arwa Mahdawi num artigo no The Guardian,  a tecnologia menos evoluída e as condições mais difíceis de acesso à Internet limitavam o tempo que os fãs podiam manter-se a obcecar online.

Atualmente, os groupies não precisam de interromper a ligação dialup porque alguém em casa precisa de fazer uma chamada; podem interagir sem parar com os membros dos grupos de fãs de que fazem parte — e com os dos que não fazem — num ambiente que frequentemente se torna pouco saudável.

Vivemos num mundo diferente, no mundo em que o discurso de ódio é o novo normal, na política, no desporto, na religião. E agora, no mundo da música — que era suposto trazer-nos apenas bons momentos.

Um exemplo é a recente escalada de tensão (expressão que só estávamos habituados a ler quando falamos da Ucrânia, Israel ou Taiwan) entre os fãs da cantora britânica Charli XCX, também conhecidos como “anjos”, e os Swifties — a legião de fãs de Taylor Swift.

Os “anjos” acusam Swift de estar a sabotar deliberadamente o sucesso de Charli XCX nas tabelas de vendas, com o lançamento estratégico de coletâneas em datas incómodas.

As tensões atingiram recentemente o auge num show de DJs no Brasil, durante o qual os fãs de Charli gritaram “A Taylor morreu“. A frase não é propriamente uma ameaça de morte literal — antes uma provocação figurativa, algo como “Taylor vai cair”, o seu sucesso está a chegar ao fim.

Mas a verdade é que o cântico explodiu nas redes sociais, e transformou-se num meme. Mais do que isso, escreve um dos fãs de Charli no X/Twitter, “É um grito de liberdade artística, um movimento contra a mediocridade da industria, é a revolução!“.

Enquanto os “anjos” se preocupam com a mediocridade da indústria,  a agressividade do cântico suscitou preocupações diferentes em outras pessoas, mais incomodadas com a mediocridade de um mundo em que se considera normal celebrar “A Taylor morreu” como um grito de liberdade.

Charli XCX ficou também aparentemente incomodada com estes seus fãs. Num post recente no seu Instagram, que o Deadline republicou, a cantora pede-lhes que parem de insultar Taylor Swift.

As pessoas que fazem isto, podem por favor parar. Online ou nos meus shows, isto é o oposto do que eu quero e perturba-me que alguém pense que há espaço para isto na comunidade. Não vou tolerá-lo“, escreveu .

Charli XCX poderá ter perdido alguns “anjos” com a sua reprimenda, mas terá certamente conquistado um ou outro novo — tão cedo tenham disponibilidade de apreciar o seu trabalho.

Mas se estes “anjos” de Charli não são flor que se cheire, os Swifties também não são propriamente anjinhos. Em abril, a revista Paste publicou uma crítica pouco favorável a “The Tortured Poets Department“, o novo album da cantora norte-americana.

“Pouco favorável” é um eufemismo. “Swift é a cantora — e talvez a pessoa — mais famosa da Terra, mas no seu último álbum não consegue evitar infantilizar as pessoas que compram a sua música e que impulsionam o seu sucesso“, lê-se na review.

O texto não tem autor, está assinado “Redação”, e a revista explica porquê num post no X/Twitter.

Nota do Editor: Não há uma assinatura nesta crítica porque em 2019, quando a Paste analisou ‘Lover’, o autor da review recebeu ameaças de violência de leitores que discordavam do seu trabalho. Preocupamo-nos mais com a segurança da nossa equipa do que com ter um nome a assinar um artigo“, lê-se no post.

A política, o desporto, a religião, a cultura pop. Assim vai o mundo.

Armando Batista, ZAP //

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