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“Originalidade portuguesa”. CNE quer acabar com o 2º ciclo

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SESI SP / Flickr

A presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) pôs em causa a existência do 2º ciclo, lembrando que se trata de uma “originalidade portuguesa”, que “não é uma boa prática” tendo em conta o elevado número de reprovações.

Para a presidente do CNE, Maria Emília Brederode Santos, deveria ser repensada a organização do ensino básico, atualmente dividido em três ciclos, “designadamente a velha questão do 2º ciclo”, lê-se na introdução do relatório Estado da Educação 2017.

As taxas de retenção e desistência têm vindo a diminuir nos últimos anos, tendo atingido no ano letivo de 2016/2017 o valor mais baixo da última década em todos os três ciclos de ensino.

No entanto, olhando para o relatório percebe-se que é nos anos de transição de ciclo (5º e 7º) que os alunos apresentam mais dificuldades e acabam por ficar retidos, uma realidade que continua a preocupar o CNE.

“O 2º ciclo é uma originalidade portuguesa. Só nós é que temos aqueles dois anos: Que é um ano para entrar e um ano para sair e já se viu que não é uma boa prática”, disse a presidente do CNE.

A taxa de retenção do 7º ano, que em 2017 alcançou os 11,5%, “tem sido a mais elevada do ensino básico nos últimos quatro anos, enquanto no 8º e 9. ano os valores têm-se vindo a aproximar, rondando os 7% em 2017″, refere o relatório.

Para Maria Emília Brederode Santos, “valia a pena tentar encontrar outras formas de organizar o sistema que não criassem tantas transições, que acabam por provocar, como se percebe pelos resultados, mais dificuldades na aprendizagem dos alunos”.

A presidente do CNE deu como exemplo a possibilidade de os nove anos do ensino básico poderem ser divididos em apenas dois ciclos, seguindo-se depois o ensino secundário.

Ministro da Educação não concorda

O ministro da Educação contestou esta quarta-feira que a existência do 2º ciclo tenha um impacto na “cultura de retenção”, defendendo que mudanças nos ciclos de ensino necessitam primeiro de “discussões alargadas” e experimentação.

Tiago Brandão Rodrigues entende que os números expressos no relatório não espelham essa relação: “A reprovação do 2º ciclo estava em 12,5% (2013) e agora está em 5,8%”, afirmou o ministro.

Obviamente que as transições são sempre complexas, que temos de fazer um trabalho sistemático no acompanhamento dessas transições para mitigar os efeitos de mudar de escola, mudar de ciclos, de mudar da monodocência para a pluridocência”, referiu o Tiago Brandão Rodrigues. “Mas não nos parece, pelos números que vemos, que este 2º ciclo tenha uma implicação na reprovação e cultura de retenção”.

Para o ministro, qualquer alteração no esqueleto da escolaridade obrigatória e na reconfiguração do ensino básico teria de ser sempre alvo de “uma discussão alargada e profunda”. O ministro admitiu, no entanto, que, caso a sociedade e as forças políticas assim o entendessem, então poderia avançar-se para essa mudança.

A pertinência e eficácia dos três ciclos no ensino básico têm sido questionadas há já vários anos pelo CNE, mas nunca teve qualquer consequência por parte da tutela. Tiago Brandão Rodrigues mostra-se apologista de “mudanças paulatinas”, defendendo que qualquer mudança tem de ser primeiro experimentada no terreno.

ZAP // Lusa

1 Comment

  1. Já agora elimine-se, também, o 3º Ciclo e o ensino secundário e acabam-se as reprovações. Evita-se, também, a transição de ano escolar com 5 e 6 reprovações a disciplinas. Todos a ingressarem directamente nas Universidades e fica o assunto arrumado. Há cada iluminada neste país que até dói!

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