Alguns dos desenhos feitos por uma fêmea em particular, chamada Molly e que morreu em 2011, parecem mudar conforme o tempo, a estação do ano e até o seu estado de espírito.
Os investigadores responsáveis pelo estudo, publicado a 9 de novembro na revista científica Animals, analisaram mais de mil desenhos feitos, entre 2006 e 2016, por cinco fêmeas de orangotango-de-bornéu (Pongo pygmaeus) do Parque Zoológico de Tama, no Japão.
A grande maioria dos desenhos (1299) foi feita por uma fêmea chamada Molly, que morreu em 2011 e que parecia levar muito mais a sério esta atividade do que as restantes, perdendo mais tempo a desenhar.
“As outras terminavam as suas composições muito depressa, enquanto ela conseguia estar a trabalhar nas suas durante uma hora ou mais”, conta Cédric Sueur, primatólogo do Instituto Universitário de França e um dos autores do estudo, citado pela revista Science.
Sueur e os colegas decidiram analisar estatisticamente 790 dos desenhos feitos por estes animais, examinando também a quantidade de tela coberta, as formas desenhadas e as cores usadas. Ao mesmo tempo, analisaram separadamente 656 desenhos feitos por Molly que foram escolhidos de forma aleatória, para ver se e como mudaram ao longo do tempo.
De acordo com a mesma publicação, os cientistas descobriram diferenças individuais notáveis nas preferências de cor destes animais, na força com que pressionaram os lápis de cera e na quantidade de tela usada, o que, na sua perspetiva, reflete as diferenças na “personalidade, motivação e habilidades cognitivas”.
No caso de Molly, a fêmea pressionava levemente os lápis de cera, logo, os seus desenhos eram frequentemente mais suaves do que os desenhos vívidos de Kiki, por exemplo, uma jovem fêmea com apenas 10 anos.
À medida que envelhecia, também começou a desenhar com menos cores, cobria menos a tela que tinha à sua disposição e desenhava mais longe do seu centro, mudanças essas que, segundo os investigadores, podiam estar relacionadas com as limitações físicas que começaram a aparecer, como ficar cega do olho esquerdo.
Contudo, Molly ainda criou “desenhos mais complexos”, tendo feito uma maior variedade de traços do que qualquer uma das outras fêmeas estudadas.
Os seus desenhos também mudaram com o tempo e com as suas experiências. Os investigadores perceberam, por exemplo, que preferia a cor roxa para os desenhos que fazia na primavera, o verde para o verão e o inverno e o vermelho quando outra fêmea estava a dar à luz.
Os cientistas concluíram assim que “o comportamento de desenho destas cinco fêmeas não era aleatório e que as diferenças entre elas podem refletir diferenças de estilos, estados de espírito e motivação para desenhar”.