A ONU quer que todos os campos de refugiados no mundo tenham eletricidade ou outro tipo de energia até 2030, e desafiou esta quarta-feira a comunidade internacional, durante o primeiro Fórum mundial sobre refugiados, a apoiar este objetivo.
O desafio da organização internacional surge após a constatação dos números relativos à situação no terreno: dos quase 26 milhões de refugiados registados a nível mundial, distribuídos principalmente em países pobres, 90% vivem em campos que não têm acesso a fontes de energia ou eletricidade. Situação que implica, entre outros aspetos, elevados riscos de insegurança, especialmente para as mulheres.
“Convido-vos a juntarem-se a mim neste ambicioso desafio de ‘energia limpa’ para que, até 2030, todos os [campos de] refugiados e as comunidades vizinhas tenham acesso a uma energia acessível, confiável, sustentável e moderna”, disse o Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, em Genebra (Suíça), onde termina o primeiro fórum global sobre refugiados, encontro promovido desde segunda-feira pela ONU.
“Acho que não temos escolha, dada a situação atual”, acrescentou, por sua vez, o conselheiro especial do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) para os assuntos climáticos, Andrew Harper, mencionando que as regiões mais afetadas pelas alterações climáticas também são aquelas que recebem mais refugiados.
Por exemplo, segundo Harper, na região africana do Sahel, apenas 31% da população tem acesso a fontes de energia, com o conselheiro do ACNUR a admitir que “a disputa pela energia” também pode potenciar conflitos. A falta de acesso a água ou a eletricidade “acrescenta tensão, stress social e, infelizmente, é frequentemente uma fonte de conflito”, acrescentou.
Apesar do desafio da ONU ter sido oficializado hoje em Genebra, já existem projetos no terreno que estão a melhorar o acesso a fontes energéticas sustentáveis e limpas, como é o caso de centrais solares em acampamentos na Jordânia ou da distribuição de combustíveis não poluentes no Níger.
A par das questões relacionadas com a sustentabilidade e o desenvolvimento, o acesso à energia ou à eletricidade é também para os refugiados “um sinónimo de proteção, de segurança”, relatou, em Genebra, Joelle Hangi, uma refugiada do campo de Kakuma, no Quénia.
“Precisamos de eletricidade“, afirmou Joelle Hangi, sublinhando a importância “vital” da eletricidade para a segurança das pessoas que vivem nos campos de refugiados, especialmente para as mulheres, frequentemente vítimas de vários tipos de violência.
Na terça-feira, numa intervenção no fórum, o secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu que a comunidade internacional deve fazer “muito mais” para assumir as responsabilidades para com os refugiados.
A reunião que hoje termina em Genebra, o Global Refugee Forum, acontece precisamente um ano depois da adoção em Nova Iorque pela Assembleia Geral das Nações Unidas do Pacto Global sobre Refugiados. A 17 de dezembro do ano passado, 181 países votaram a favor deste pacto inédito que assumia um grande objetivo: promover uma resposta mais robusta e sistemática para melhorar a vida dos refugiados e as condições dos países anfitriões.
Um ano depois, o Global Refugee Forum surge, de acordo com o ACNUR, como uma oportunidade “para converter o princípio da partilha internacional de responsabilidades, que está na génese do Pacto Global, em ações concretas” e “para fortalecer a resposta coletiva à crise dos refugiados”.
Segundo o ACNUR, este encontro em Genebra assinala, segundo a organização, o fim de uma “década tumultuosa” que ficará marcada por um número recorde: mais de 25 milhões de pessoas no mundo são refugiadas.
Nunca houve tantos refugiados no mundo desde que a ONU começou a registar este tipo de dados. Já em 2014, a ONU admitia que o mundo estava a testemunhar a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial.
// Lusa
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