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Já se pode chamar meteorito? Onde caiu, afinal, o meteoro? (Se é que caiu)

O geofísico Rui Gonçalves considera prematuro responder se o meteoro que passou por Portugal, na noite deste sábado, realmente caiu e onde caiu.

Perto da meia-noite deste sábado, Portugal foi surpreendido por um meteoro de grandes dimensões, iluminando a noite com um clarão azul-esverdeado.

Caiu ou não caiu? Se caiu, é meteorito; se não caiu, é meteoro.

Em declarações à Lusa, o geofísico Rui Gonçalves explica que ainda é prematuro dizer se o meteoro realmente caiu e onde.

O professor do Instituto Politécnico de Tomar salientou ser necessário “juntar mais dados” para conseguir calcular a trajetória.

Segundo o investigador, o fenómeno foi observado “desde a costa francesa ao sul do Algarve”.

Embora tenha reforçado que é agora necessário cruzar dados, e que esse trabalho não é imediato, acrescentou que membros espanhóis da rede, país onde existe mais equipamento e maior possibilidade de fazer registos com o céu limpo, estimam que do meteoro “não caiu quase nada, ou foi parar ao Atlântico”, segundo os dados preliminares do Instituto de Astrofísica da Andaluzia.

Em Portugal a passagem do “gigantesco bólide”, com “longa duração e longo rasto”, foi observado às 23:46 de sábado. na câmara de Tomar “o registo foi muito bom”, em São Brás de Alportel apenas apanhou “o início do evento” e em Braga e Sesimbra o céu estava nublado e viu-se apenas o clarão, sem imagem.

De acordo com o Instituto de Astrofísica da Andaluzia, em Espanha, organismo com quem o geofísico já conversou, o meteoro entrou na atmosfera a uma velocidade de 161 mil quilómetros por hora.

Há que calcular a trajetória

“Só depois de calcular a trajetória é que a gente pode ter alguma ideia se sobrou algum material e qual é o local de queda, mas isso não é automático”, acentuou o geofísico.

A altitude inicial da parte luminosa do evento registou-se aos 122 quilómetros e deixou de se ver a uma altitude de 54 quilómetros, mas Rui Gonçalves explicou que isso não é sinónimo que se tenha desintegrado nessa altura.

“Eles podem brilhar até aos 30/40 quilómetros de altitude. Normalmente, daí para baixo não se vê, é o chamado voo escuro. Isso tem de ser calculado, e essa parte é mais difícil de calcular, porque temos de fazer uma série de assunções para calcular o sítio onde podem ter caído as peças”, acrescentou o investigador, em declarações à agência Lusa.

Também o investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e da Universidade de Coimbra Nuno Peixinho lembrou que existe uma rede de câmaras em Portugal e Espanha, acionadas automaticamente, para registar esses fenómenos e que, através do cruzamento desses dados, é possível perceber se caiu ou não e calcular, com alguma margem de erro, o local.

“São bocados de rocha que vêm a grande altitude e velocidade, entre os 10 e os 70 quilómetros por segundo”, explicou Nuno Peixinho, em declarações à agência Lusa.

Processo químico em questão

Nuno Peixinho explicou que, tal como as estrelas cadentes – embora estas sejam muito mais pequenas -, consomem-se na atmosfera e é desse processo químico que resulta o rasto de luz que se vê, que no caso do azul “indica que o tipo de material que está a arder, a vaporizar, é o magnésio”.

“Como andam a vários quilómetros por segundo, contra o ar, a pressão que aquilo faz na atmosfera é tão grande que as temperaturas atingem facilmente os 25 mil graus, e a essa temperatura vaporiza tudo”, sublinhou.

O investigador frisou que, “como se ensina na escola, se caiu no chão é meteorito, se não caiu é meteoro”.

ZAP // Lusa

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