A direção da Organização Mundial de Saúde (OMS) estava a par das acusações de assédio sexual durante o surto de Ébola na República Democrática do Congo (RDCongo) em 2019, e não a investigou, de acordo com uma investigação da Associated Press (AP).
Segundo a investigação, baseada em relatórios, correio eletrónico interno, reuniões e entrevistas aos intervenientes, em 2019 a direção da OMS foi informada pela enfermeira Shekinah que o médico canadiano Boubacar Diallo, que se vangloriava de ser amigo do diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus, lhe ofereceu um emprego em troca de sexo.
“Dadas as dificuldades financeiras da minha família, eu aceitei”, contou a enfermeira de 25 anos, que passou a ganhar o dobro do que ganhava até então, noticiou a agência Lusa.
“Quando um funcionário e três peritos em Ébola a trabalhar na RDCongo informaram a direção da OMS sobre as preocupações face aos abusos sexuais de Diallo, foi-lhes dito que não abordassem o assunto”, lê-se na investigação da AP, que vinca que a direção da OMS foi não só informada, como questionada sobre o que devia ser feito perante as acusações.
Para além de Diallo, também o médico Jean-Paul Ngandu estará envolvido, sendo acusado de engravidar uma jovem e de ter feito um acordo financeiro, assinado por membros da OMS enquanto testemunhas, para que o caso não fosse divulgado.
“Num contrato feito num notário e obtido pela AP, dois funcionários da OMS, incluindo um diretor, assinaram como testemunhas confirmando que Ngandu iria pagar à jovem, suportar os custos de saúde e comprar-lhe terras”, lê-se na investigação da AP.
Ngandu negou ter feito qualquer coisa de errado e disse que assinou o acordo “para proteger a integridade e a reputação da OMS”, segundo a AP, que apontou que a investigação revelou que pelo menos oito diretores assumiram em privado que a OMS não fez o suficiente para impedir estes abusos.
“Não se pode apontar para este caso e dizer que houve uma operação no terreno que correu mal, de certa forma isto é a ponta do iceberg”, disse o chefe de emergências, Michael Ryan, numa reunião interna.
No dia 15 de outubro, o responsável máximo da OMS nomeou um painel independente para investigar estas e outras acusações sobre os abusos sexuais na RDCongo, cujas conclusões deverão ser conhecidas em agosto.
// Lusa