Objeto raro da resistência judaico-holandesa durante a II Guerra Mundial será exposto em Amesterdão

No campo de concentração de Westerbork, Brandes-Brilleslijper conviveu com as irmãs Frank, tendo sido das últimas pessoas a vê-las vivas.

O único objeto proveniente de um esconderijo judeu que resistiu à segunda guerra mundial será exposto no Museu da Resistência em Amesterdão, nos Países Baixos. Trata-se de um relógio – estilo lareira – que pertencera à família de Janny Brandes-Brilleslijper, um sobrevivente do holocausto e lutador pela resistência. Para além do objeto, foram também encontradas fotografias de família, documentos e um livro de poesia que ajudam a contar a sua história, mas também a da resistência de milhares de famílias judias holandesas – muitas vezes esquecida face ao elevado número de mortes registadas.

De acordo com o The Guardian, três quartos da população judaica dos Países Baixos foi morta durante a Segunda Guerra Mundial, a maior taxa de toda a Europa oriental. “Este é um fator pelo qual as pessoas acreditavam que a resistência judaica foi quase não-existente” explicou Filip Bloem, curador do museu. “Mas se se olhar com mais precisão pode-se ver que existiam muitos judeus escondidos, milhares e milhares .”

Depois de os nazis terem invadido o país, Marianne Brandes-Brilleslijper (conhecida informalmente por Janny), recusou-se a emitir um cartão de identificação judeu e começou a trabalhar para a resistência, colando cartazes e mensagens em pilares e paredes ou transportando encomendas e documentos ilegais, nomeadamente por baixo do colchão do carrinho de bebé dos seus filhos. Quando o cerco começou a apertar, Janny e o seu marido Bob, juntamente com as crianças, mudaram-se para uma aldeia na floresta fora de Amesterdão.

Lá partilhavam a casa com os seus pais, com a família da sua irmã Lien, outros judeus e resistentes. A certa altura, chegaram a viver no mesmo espaço 17 pessoas.

Segundo a mesma fonte, a aldeia, longe da estrada principal, tornou-se um “paraíso cultural”, já que os residentes organizavam concertos, escreviam músicas e distribuíam panfletos a apelar ao movimento de resistência. No entanto, tal não durou muito tempo, com o grupo a ser traído e denunciado no verão de 1944. Janny, a sua família e outros ocupantes acabaram por ser levados para o campo de concentração de Westerbork – o seu marido seguiu um caminho diferente, devido ao facto de não seu judeu.

Após chegar a Westerbork, os Brandes-Brilleslijper conheceram outra família de Amesterdão que também acabara de ser descoberta numa anexo secreto: Anne Frank, a sua irmã Margot e os seus pais. De facto, as duas famílias, na última fase da guerra, foram postas no último transporte para deixar os Países Baixos a caminho de Auchwitz. Naquele espaço, Janny trabalhou como enfermeira, apesar da inexistência de medicamentos. Como tal, incentivava amigos e conhecidos a simplesmente viverem, mas também a mastigarem pão para os mais fracos, a procurarem comida e a fecharem os olhos.

Ainda segundo o The Guardian, Marianne Brandes-Brilleslijper foi das últimas pessoas a ver as irmãs Frank vivas. Felizmente, o seu destino, assim como o de Lien, foi diferente, tendo conseguido regressar à sua casa de Amesterdão – uma recordação que o seu filho preservou durante anos e cujo relato estará também em exibição. Janny, que dedicou grande parte da sua vida à luta pelo reconhecimento das vítimas de regra, morreu em 2003.

ZAP //

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