John Lewis lutou afincadamente pelos direitos cívicos nos Estados Unidos. Se o ativista não tivesse existido, Barack Obama, o primeiro Presidente negro do país, nunca teria sido eleito.
Esta quinta-feira, na derradeira despedida de John Lewis, que faleceu no dia 17 deste mês, Barack Obama não deixou os elogios de parte.
Ao contrário do estilo a que nos habituou, o ex-Presidente norte-americano elevou a voz, num tom energético que raramente adota. “John Lewis será o pai fundador de uma América mais completa, mais justa e melhor.”
Durante o discurso, escreve o Expresso, traçou paralelos com o momento que o país vive atualmente – num ano marcado pela morte de um homem negro, George Floyd, às mãos da polícia – e o momento que viveu Lewis, que o levou ao chão na marcha de Selma a Montgomery, o “Domingo Sangrento“, que abriu a porta à aprovação da “Voting Rights Act” (1965), a lei que pôs fim aos pré-requisitos impostos à população negra para votar.
Assim, o ex-governante sentiu-se na obrigação de exortar os norte-americanos a homenagear o falecido líder dos direitos civis, que lutou para expandir os direitos de voto. “Vamos honrá-lo revitalizando a lei pela qual estava disposto a morrer”, disse Obama, numa referência à Lei de Direitos de Voto.
Num discurso apaixonado sobre o impacto de Lewis na sociedade e na política norte-americanas, Obama elaborou uma lista de sugestões para melhorar os direitos civis, a democracia e a participação dos eleitores nos Estados Unidos.
Conforme elenca o NPR, um dos passos mais importantes da lista de Barack Obama é “garantir que todos os cidadãos norte-americanos são registados automaticamente para votar”, aumentando os locais de voto, expandindo a possibilidade de votação antecipada e fazendo do dia das eleições um feriado nacional.
O antigo Presidente dos Estados Unidos também pediu representação completa para milhões de cidadãos que vivem em Porto Rico e Washington, D.C. – um território e distrito, respetivamente, cujos moradores não têm representação votante no governo federal.
Na lista, consta ainda o fim de parte do gerrymandering partidário, “para que todos os eleitores tenham o poder de escolher os seus políticos, e não o contrário”. O gerrymandering é um controverso método de definir, em termos de área, os distritos eleitorais de um território para obter vantagens no número de representantes políticos eleitos.
Tudo isto implica, na ótica de Obama, “eliminar o filibuster – outra relíquia de Jim Crow – para garantir os direitos de Deus de todos os norte-americanos”. “É isso que devemos fazer.” A arte de falar sem parar, estendendo o discurso por horas, é conhecida nos Estados Unidos por filibuster, uma estratégia de obstruir o processo legislativo sem incorrer numa infração.
Críticas à administração Trump
Em relação à administração Trump, Barack Obama condenou a decisão de enviar agentes federais contra manifestações pacíficas e os esforços das autoridades para “atacar o direito de voto” dos cidadãos.
“[Apesar dos progressos alcançados pelos militantes e ativistas dos direitos cívicos], não podemos ver o nosso governo federal a enviar agentes que utilizam granadas de gás lacrimogéneo e matracas contra manifestantes pacíficos”, disse.
“Enquanto estamos aqui, os que estão no poder estão a fazer todos os possíveis para desencorajar as pessoas para irem votar”, acrescentou, fazendo referência ao “encerramento das assembleias de voto”, às “leis restritivas que complicam a inscrição de minorias e de estudantes” e ao “enfraquecimento dos serviços postais” que encaminharão os votos por correspondência.
O primeiro Presidente negro dos Estados Unidos pediu aos norte-americanos para participarem nas eleições de 3 de novembro, “as mais importantes pelas mais variadas razões”.
“Tal como John [Lewis], é preciso que nos possamos bater ainda mais para defender a ferramenta mais potente que temos à nossa disposição: o direito de voto.”
LM, ZAP // Lusa