O tratamento do HIV no cérebro pode passar por um medicamento contra o cancro

Um medicamento experimental originalmente desenvolvido para tratar o cancro, pode ajudar a eliminar o HIV das células infetadas do cérebro.

O cérebro é uma área difícil de tratar devido à barreira hemato-encefálica, uma membrana protetora que o protege de substâncias nocivas mas que também bloqueia os tratamentos, permitindo que o vírus persista.

Além disso, as células do cérebro conhecidas como macrófagos têm uma vida extremamente longa, o que dificulta a sua erradicação quando são infetadas.

A terapia antirretroviral (TAR) é essencial para o sucesso do tratamento da doença, que bloqueia a ação do vírus no organismo, concretamente nas várias etapas que o vírus precisa para se reproduzir. No entanto, a TAR não erradica por completo a doença, sendo necessário um tratamento ao longo da vida.

Segundo o Futurity, os investigadores descobriram que um fármaco contra o cancro reduziu significativamente os níveis do vírus da imunodeficiência símia (SIV), o equivalente do HIV dos primatas, no cérebro, ao visar e eliminar algumas células imunitárias que albergam o vírus.

Num novo estudo, publicado na Brain, os investigadores centraram-se nos macrófagos, um tipo de glóbulo branco que alberga o HIV no cérebro.

Ao utilizar um inibidor de uma pequena molécula para bloquear um recetor que aumenta nos macrófagos infetados pela doença, a equipa conseguiu reduzir a carga viral no cérebro e eliminar o vírus do tecido cerebral, proporcionando uma potencial nova via de tratamento da doença.

O presente estudo utilizou três grupos para modelar a infeção e o tratamento do HIV humano, um grupo de controlo não tratado e dois grupos tratados com uma dose baixa ou alta do inibidor de pequenas moléculas durante 30 dias.

O tratamento com a dose elevada conduziu a uma redução das células que expressam sítios recetores do HIV, bem como a uma diminuição de cerca de 95% das cargas de ADN viral do cérebro.

Para além de reduzir as cargas virais, o tratamento não afetou significativamente a microglia, as células imunitárias residentes no cérebro, que são essenciais para manter um ambiente neuroimune saudável.

A equipa espera agora testar esta terapia em conjunto com a TAR para avaliar a sua eficácia numa abordagem de tratamento combinado, o que poderá abrir caminho a estratégias mais abrangentes para erradicar totalmente o vírus do organismo.

Soraia Ferreira, ZAP //

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