O Titanic não matou a “Miss Inafundável”: uma maré de sorte livrou-a de três desastres no mar

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Restauro, a cores, do retrato de Violet Jessop

A doença inundou a sua infância, mas nunca a matou. Graças à sua “vontade de viver”, a “Miss Inafundável” sobreviveu ainda aos desastres marítimos dos três irmãos da White Star Line.

Nascia em 1887, na Argentina, a mais (ou menos) sortuda das assistentes de bordo. Filha de imigrantes irlandeses católicos, que se mudaram para a América do Sul para se tornarem pastores de ovelhas, Violet Jessop sobreviveu a três desastres no mar.

Mas não foi só em alto mar que as tragédias atingiram Violet, que desde tenra idade foi afetada pela tuberculose e febre tifóide. Dizem que foi um milagre ter sobrevivido ao Bacilo de Koch.

A morte do seu pai, quando tinha apenas 16 anos, assinala uma mudança drástica na vida de Violet que a tornaria famosa o suficiente para protagonizar uma das dezenas de histórias românticas do grande desastre do Titanic. Foi nessa altura que se mudou para Inglaterra com a sua mãe Katherine, que se tornou assistente de bordo nos navios a vapor da empresa amaldiçoada que atravessava o Atlântico, a companhia marítima britânica White Star Line, cujos navios foram construídos no início do século XX, pelos estaleiros da Harland and Wolff, em Belfast, no Reino Unido.

Aos 21, motivada pela doença da mãe, tornou-se a fonte do ganha-pão da família ao tomar o lugar da progenitora. A sua fluência em inglês, francês e espanhol garantiram-lhe uma vaga no elenco de assistentes dos abastados tripulantes. Foi aí que a sua maré de sorte começou.

Uma maré de sorte

A jovem embarcou no navio líder do trio da White Star Line com 24 primaveras. Com 269,1 metros de comprimento e 52 067 toneladas de deslocamento, o Olympic tinha — tal como o Titanic — tudo para dar certo, mas acabou por embater contra um navio de passageiros e danificar fatalmente o casco, abaixo da linha de água.

Enviado para trás para reparações, o desastre do Olympic não impediu o plano b de Violet que, inundada pela ingenuidade, embarcou no navio irmão — o Titanic. Sete meses mais tarde, a 14 de abril de 1912, já todos conhecemos o fatal desfecho do segundo filho da White Star Line.

Violet lembra-se do “som baixo, dilacerante, esmagador de um rasgão”, e três horas depois, segundo o National Geographic, estava num barco salva-vidas: “de certeza que é um sonho”, diz ter pensado enquanto via desvanecer-se o gigante sob a escuridão do Atlântico.

A jovem, que se tornou enfermeira no levantar da Grande Guerra, acabaria a servir no terceiro filho da White Star Line, convertido em navio-hospital, nunca imaginando que iria, pela terceira vez, ver sangue e destruição nas águas do mar.

O Britannic foi o terceiro e último dos três transatlânticos e, para prevenir um desastre idêntico ao do Titanic, foi equipado com um casco duplo. Além disso, os compartimentos também foram melhorados, prevendo-se que o navio pudesse flutuar, mesmo em caso de inundação.

Enquanto navegava pelo Canal Kea no Mar Egeu, a 21 de novembro de 1916, o Britannic atingiu uma mina de um submarino da marinha alemã.

A explosão fez com que quatro compartimentos do navio se enchessem de água, inundando a caldeira principal. Morreram 30 pessoas, das 1066 que estavam a bordo, mas mais uma vez Violet Jessop não foi uma delas.

A jovem saltou para o mar para fugir ao destino fatal, mas não escapou sem consequências: sofreu uma fratura no crânio e um golpe na perna.

“Todo o convés caiu no mar como se fossem brinquedos de criança”, contou, citada pelo Heritage Daily.

“O navio deu um mergulho terrível, a popa ergueu-se centenas de pés no ar, até que com um rugido final ele desapareceu nas profundezas. Aquele barulho foi ressoando através da água, com uma violência inimaginável”, descreveu.

Depois de ficar a recuperar dos ferimentos durante três anos, Violet confirmou que tinha um grande amor na vida — voltou ao serviço no restaurado Olympic, que desta vez não se desgraçou e deu casa à assistente de bordo até à sua reforma, em 1950. 20 anos depois, aos 83 anos, faleceu pacificamente em Inglaterra.

“Uma teimosa e feroz vontade de viver”, lembrou o falecido John Maxtone-Graham.

Tomás Guimarães, ZAP //

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